Por Ademar Rafael Ferreira (Papa)
Ade Maleu Lapa-el – Hoje a abordagem será sobre Carolina Maria de Jesus.
Papa – Carolina Maria de Jesus, escritora e catadora de lixo, nasceu em Sacramento (MG), no dia 14.03.1914, desde cedo enfrentou trabalho duro, residiu com a família em Lajeado e Conquista, em Minas Gerais e Franca, estado de São Paulo. Em 1937 mudou-se para São Paulo trabalhou como empregada doméstica e no ano de 1948 foi residir na favela do Canindé. Para criar seus três filhos ou a catar papéis e outros materiais para reciclagem. Em escola convencional estudou somente dois anos, mas, na escola da vida fez doutorado.
Com uma habilidade peculiar escreveu um diário, transformado no livro “Quarto de despejo – Diário de uma favelada”, publicado em 1960. O sucesso da obra tirou Carolina da invisibilidade social e permitiu uma vida melhor, contudo por questões diversas não promoveu a libertação total no tocante a independência financeira. O seu livro é considerado um marco da literatura nacional e tem alta relevância quando analisado sob parâmetros literários e políticos.
Em sua obra principal, publicada com o auxílio do jornalista Audálio Dantas, a escritora narra detalhes da sua luta diária no período de 15.07.1955 até 01.01.1960. Na versão publicada em 1995 pela Editora Ática estão registrados depoimentos, do quais transcrevo dois para mostrar a força dessa MULHER VENCEDORA. Ao ser perguntada por que começou a escrever ela disse: “Quando eu não tinha nada o que comer, em vez de xingar eu escrevia. Tem pessoas que quando estão nervosas xingam ou pensam na morte como solução. Eu escrevia o meu diário.” Para indagação sobre de onde veio a ideia do título do livro vejam a resposta: “É que…quando começaram a demolir as casa térreas para construir os edifícios nós os pobres que residíamos na habitações coletivas fomos despejados e ficamos residindo debaixo das pontes. É por isto que eu denomino que a favela é o ‘quarto de despejo’ de uma cidade. Nós, os pobres, somos trastes velhos”.
Sem obter o mesmo sucesso do primeiro livro a autora publicou em vida: “Casa de alvenaria – Diário de uma ex-favelada, 1961; Pedaços de fome,1963 e Provérbio, 1965”. Outros livros de sua autoria foram publicados após sua morte, assim como reeditados os lançados nos anos sessenta. Por merecimento recebeu vários prêmios no Brasil e no exterior, sobre sua história existe uma dezena de livros. Viva uma das grandes escritoras deste país que soube descrever como poucos o mundo em que viveu, uma mulher digna de ser exemplo para muitos desamparados.