08 – NA SEXTA UMA CESTA DE VERSOS

Por Ademar Rafael Ferreira (Papa)

Ade Maleu Lapa-el – Hoje o poeta Cego Aderaldo chega ao nosso diálogo, fale-nos dele.

Papa – Aderaldo Ferreira de Araújo, o popular Cego Aderaldo, nasceu na cidade do Crato (CE), em 24.06.1878 e perdeu a visão quanto tinha em torno de dezoito anos. Isto não o impediu de, mesmo sem ter casado, adotar vinte e seis crianças, conforme narram muitos registros sobre sua vida. Antes de exercer a profissão de cantador de viola foi aprendiz de carpinteiro, empregado de hotel, e trabalhou numa forja de ferro. Este poeta tem seu nome ligado ao cordel “A peleja de Cego Aderaldo com Zé Pretinho”, escrito na primeira metade da segunda década do século ado. Contudo, sua magnifica obra extrapola essa publicação.

Do livro do jornalista cultural Cláudio Portela, intitulado “Cego Aderaldo – A vasta visão de um cantador”, extraímos as estrofes abaixo. Com ela uma pequena parte do que produziu o poeta cearense.

A criança graciosa

Corre cortando o orvalho,

Depois se trepa em um galho;

Aonde colhe um rosa,

Acha a flor tão perfumosa

Encarnada como fita,

Corre para onde habita

A criança alegre vai

Atira o rosa no pai

Graça de filho é bonita.

Se é lagarta em forma de serpente

Quando vai caminhando um uma estrada

Mas, depois, metamorfoseada,

Ela toma porte diferente,

Cria asas e couro reluzente

Verdadeiro vislumbre de beleza

Nem arte, riqueza, nem dinheiro

Poderá pintar beleza igual.

Isto é lei do juízo universal

E impulso da mão da natureza.

Ah! se o ado voltasse

Que o visse o grande oceano

Revolto, forte, soberbo,

Tão portentoso e ufano,

Indomável, temeroso,

Como um sultão soberano.

Fugi como medo da seca

Do pesadelo voraz.

Que alarmou todo sertão

Da cidade aos arraiais.