12 – NA SEXTA UMA CESTA DE VERSOS

Por Ademar Rafael Ferreira (Papa)

Ade Maleu Lapa-el – Diomedes Mariano, fale-nos sobre esse filho de Solidão.

Papa – Diomedes Laurindo de Lima, conhecido como Diomedes Mariano no mundo da cantoria e como Dió no ambiente familiar e entre pessoas próximas. Desde cedo demonstrou grande potencial na arte da poesia. Nasceu em 1964 em Solidão e ainda muito jovem mudou-se para Afogados da Ingazeira, local onde atua como radialista, comerciário e empreendedor.

Conviveu por muito tempo com o dilema de seguir com “viola nas costas” pelo Nordeste, ter outra profissão ou desenvolver as duas habilidades. É difícil identificar a data exata dessa ruptura. Hoje é reconhecido no universo dos cantores profissionais pelo talento de grande repentista e pelo comportamento como amigo e cidadão, marcas facilmente perceptíveis.

Com soneto “Eu quisera” abaixo transcrito, e uma das estrofes do magnífico poema “Reconhecimento”, feito para sua mãe, Dona Zezinha, apresento a prova da extrema capacidade de Dió de fixar obras primas na mente dos seus ouvintes, em declamações e improvisos, ou na leitura de suas criações poéticas. Poucos poetas conseguem transcrever uma imagem em um poema ou num verso isolado com o lirismo, a sutileza e a sensibilidade como o faz Diomedes Mariano.

Eu quisera um país sem escopeta,

Sem revólver, sem bala, sem canhão,

Sem gatilho quebrando a espoleta,

Sem acúmulo de gente na prisão.

Sem mulambos rasgados na maleta,

Dos famintos da triste emigração,

Onde os pobres e pretos do planeta,

Fossem vistos sem discriminação.

Ao invés do fuzil que mata e pesa,

Um rosário, um altar, o templo, a reza,

Com um não para a guerra e um sim pra paz,

Com espaços pra grandes e pequenos,

Todo mundo feliz sofrendo menos,

A palavra de Deus valendo mais.

II

No seu colo macio eu me deitava,

No batente da porta do chalé,

Qual criança manhosa eu cochilava,

Nos impulsos das mãos no cafuné,

Dez minutos depois adormecia,

Seu cuidado era tanto que eu nem via,

Quando ia pra rede nos seus braços,

Registrava-se ali mais uma cena,

Numa rede de saco tão pequena,

Que somente a senhora achava espaços.