Por Ademar Rafael Ferreira (Papa)
Ade Maleu Lapa-el – Sobre o famoso Geraldo Amâncio o que nos conta?
Papa – Geraldo Amâncio Pereira nasceu em 1946 no sítio Malhada da Areia, município de Cedro (CE). Além de poeta extraordinário é grande comunicador e defensor da cultura raiz. Por meio cantorias, palestras, livros, cordéis, rádio e televisão faz da voz eco intransigente em defesa de valores culturais do nosso país, inclusive no exterior.
Para este cronista o seu trabalho em disco de 1976 “Violas de Ouro”, em parceria com Ivanildo Vila Nova é um divisor d’água. Entre idas e vindas foi sem dúvida uma das grandes duplas da cantoria nordestina.
As estrofes abaixo transcritas foram retiradas do seu livro “Andarilho do canto e da palavra”. Este eio pela obra do poeta cearense é uma pequena amostra da sua imensa capacidade criativa. Pela ordem são: Trova, sextilha e décimas.
Dos homens pobres e opacos
Cristo fez os seus es,
Deu trabalha com os fracos
Para confundir os fortes.
O temor me transformou
Fiquei velho e esquisito.
Já tive cabelos louros
Como os trigais do Egito
Pros olhos da minha mãe
Já fui menino bonito.
Na noite que a chuva desce
Molha a terra, nasce a planta,
Na lagoa o sapo canta
A voz sonora estremece,
Não cansa nem enrouquece,
Nem nunca fica doente.
Mesmo bebendo água quente
Não sofre de rouquidão
A gente sai do sertão
E o sertão não sai da gente.
Olho o filme do tempo e me torturo,
Ele mostra no meu inconsciente,
Meu ado maior que o presente,
Meu presente menor que o futuro.
Se a velhice é doença eu não me curo
Os três males se cura do ancião
São: Desprezo, carência e solidão
Hoje em dia sou réu dessa trindade
Se eu pudesse comprava a mocidade
Nem que fosse pagando à prestação.