15 – NA SEXTA UMA CESTA DE VERSOS

Por Ademar Rafael Ferreira (Papa)

Ade Maleu Lapa-el – Sobre o famoso Geraldo Amâncio o que nos conta?

Papa – Geraldo Amâncio Pereira nasceu em 1946 no sítio Malhada da Areia, município de Cedro (CE). Além de poeta extraordinário é grande comunicador e defensor da cultura raiz. Por meio cantorias, palestras, livros, cordéis, rádio e televisão faz da voz eco intransigente em defesa de valores culturais do nosso país, inclusive no exterior.

Para este cronista o seu trabalho em disco de 1976 “Violas de Ouro”, em parceria com Ivanildo Vila Nova é um divisor d’água. Entre idas e vindas foi sem dúvida uma das grandes duplas da cantoria nordestina.

As estrofes abaixo transcritas foram retiradas do seu livro “Andarilho do canto e da palavra”. Este eio pela obra do poeta cearense é uma pequena amostra da sua imensa capacidade criativa. Pela ordem são: Trova, sextilha e décimas.

 

Dos homens pobres e opacos

Cristo fez os seus es,

Deu trabalha com os fracos

Para confundir os fortes.

O temor me transformou

Fiquei velho e esquisito.

Já tive cabelos louros

Como os trigais do Egito

Pros olhos da minha mãe

Já fui menino bonito.

 

Na noite que a chuva desce

Molha a terra, nasce a planta,

Na lagoa o sapo canta

A voz sonora estremece,

Não cansa nem enrouquece,

Nem nunca fica doente.

Mesmo bebendo água quente

Não sofre de rouquidão

A gente sai do sertão

E o sertão não sai da gente.

 

Olho o filme do tempo e me torturo,

Ele mostra no meu inconsciente,

Meu ado maior que o presente,

Meu presente menor que o futuro.

Se a velhice é doença eu não me curo

Os três males se cura do ancião

São: Desprezo, carência e solidão

Hoje em dia sou réu dessa trindade

Se eu pudesse comprava a mocidade

Nem que fosse pagando à prestação.