Por Ademar Rafael Ferreira (Papa)
Ade Maleu Lapa-el – O paraibano Manoel Xudu merece a fama que tem?
Papa – E muito mais. As únicas pessoas capazes de avaliar a obra de Manoel Lourenço da Silva, o Manoel Xudu, que nasceu na São José de Pilar (PB), em 15.03.1932 são os poetas que o enfrentaram num pé-de-parede. Cantador extraordinário, para mim está no pódio da olimpíada dos versos magistrais. Para mostrar um pouco da sua obra transcrevemos estrofes pesquisadas pelo poeta Luiz Berto. O que será a ser registrado é um minúsculo fragmento de uma das mais belas histórias do mundo da cantoria.
Tem coisa na natureza
Que olho e fico surpreso:
Uma nuvem carregada,
Se sustentar com o peso,
De dentro de um bolo d’água,
Saltar um corisco aceso.
* * *
Uma novilha amojada
Ao se apartar do rebanho,
Quando volta, é com uma cria
Que é quase do seu tamanho;
Ela é quem lambe o bezerro,
Por não saber lhe dar banho.
* * *
Carneiro do meu Sertão,
Na hora em que a orelha esquenta,
Dá marrada em baraúna
Que a casca fica cinzenta
E sente um gosto de sangue
Chegar à ponta da venta.
* * *
Eu tava na precisão
Quando me casei com Nita,
Nada tinha pra lhe dar
Dei-lhe um vestido de chita,
Ela olhou sorrindo e disse
Oh! Que fazenda bonita!
* * *
O ligeiro mangangá
a, nos ares, zumbindo;
As abelhas do cortiço
Estão entrando e saindo,
Que, de perto, a gente pensa
Que o pau está se bulindo.
* * *
Vê-se o sertanejo moço
Com três meses de casado;
Antes de ir pro roçado,
Da mulher, beija o pescoço.
Ela lhe traz, no almoço,
Uma bandeja de angu,
A titela de um nhambu,
Depois lhe abraça e suspira.
O SERTANEJO IRA
AS MANHÃS DO PAJEÚ.