27 – NA SEXTA UMA CESTA DE VERSOS

Por Ademar Rafael Ferreira (Papa)

Ade Maleu Lapa-el – O paraibano Manoel Xudu merece a fama que tem?

Papa – E muito mais. As únicas pessoas capazes de avaliar a obra de Manoel Lourenço da Silva, o Manoel Xudu, que nasceu na São José de Pilar (PB), em 15.03.1932 são os poetas que o enfrentaram num pé-de-parede. Cantador extraordinário, para mim está no pódio da olimpíada dos versos magistrais. Para mostrar um pouco da sua obra transcrevemos estrofes pesquisadas pelo poeta Luiz Berto. O que será a ser registrado é um minúsculo fragmento de uma das mais belas histórias do mundo da cantoria.

Tem coisa na natureza

Que olho e fico surpreso:

Uma nuvem carregada,

Se sustentar com o peso,

De dentro de um bolo d’água,

Saltar um corisco aceso.

* * *

Uma novilha amojada

Ao se apartar do rebanho,

Quando volta, é com uma cria

Que é quase do seu tamanho;

Ela é quem lambe o bezerro,

Por não saber lhe dar banho.

* * *

Carneiro do meu Sertão,

Na hora em que a orelha esquenta,

Dá marrada em baraúna

Que a casca fica cinzenta

E sente um gosto de sangue

Chegar à ponta da venta.

* * *

Eu tava na precisão

Quando me casei com Nita,

Nada tinha pra lhe dar

Dei-lhe um vestido de chita,

Ela olhou sorrindo e disse

Oh! Que fazenda bonita!

* * *

O ligeiro mangangá

a, nos ares, zumbindo;

As abelhas do cortiço

Estão entrando e saindo,

Que, de perto, a gente pensa

Que o pau está se bulindo.

* * *

Vê-se o sertanejo moço

Com três meses de casado;

Antes de ir pro roçado,

Da mulher, beija o pescoço.

Ela lhe traz, no almoço,

Uma bandeja de angu,

A titela de um nhambu,

Depois lhe abraça e suspira.

O SERTANEJO IRA

AS MANHÃS DO PAJEÚ.