Por Ademar Rafael Ferreira (Papa)
Ade Maleu Lapa-el – Fale-nos sobre a cascavel do repente Pinto do Monteiro.
Papa – Os adjetivos utilizados para qualificar Severino Lourenço da Silva Pinto, o Pinto de Monteiro, nascido em 21.11.1895 em Monteiro (PB), fica a cargo de cada apologista. Para Joselito Nunes, “um cantador sem parelha”; para Ivo Mascena Veras, “o maior repentista do século” e para muitos a “cascavel do repente”. Ouvi muitas cantorias do velho paraibano, em sua maioria com João Furiba e Zé Feitosa de Lima.
É quase impossível um apologista não ter na mente um dos versos de Pinto. Abaixo transcrevo estrofes extraídas do livro “Pinto Velho do Monteiro – Um cantador sem parelha”, de autoria de Joselito Nunes. Vejam nesta minúscula amostra a capacidade do poeta do Cariri:
Aqui é minha oficina
Onde eu conserto e remendo.
Quando o ferro é grande eu corto
Quando é pequeno eu emendo
Quando falta ferro eu compro
Quando sobra ferro eu vendo.
***
Sou igualmente a balança
Dessa marca Filizola
Que tem um lado um prato
Do outro lado uma bola
E um ponteiro no meio
Onde o matuto se atola.
***
Mas eu sou como lacrau
Que do lixo se aproxima
Vivendo da umidade
Se alimentando do clima
Esperando que um caipora
Chegue o bote o pé em cima.
***
Se for com calma eu aceito
Com desaforo eu respondo
Porque minha natureza
É como a de um marimbondo
Posso morrer machucado
Mas o ferrão não escondo.
***
Quem me fez esse pedido
Devia aprender a ler
Antes de Cristo nascer
Adão já tinha morrido
Vou cantar, mas é perdido
Vai servir de mangação
Já no fim da profissão
Vi o que não tinha visto
NO TRONCO DA CRUZ DE CRISTO
“VIRAM” A CAVEIRA DE ADÃO.