37 – NA SEXTA UMA CESTA DE VERSOS

Por Ademar Rafael Ferreira (Papa)

Ade Maleu Lapa-el – Rogaciano Leite, conte-nos sobre esse poeta e jornalista.

Papa – Rogaciano Bezerra Leite nasceu no Sítio Cacimba Nova, em Itapetim (PE), no dia 01.07.1920, sem dúvida um dos grandes poetas do Brasil. Galgou fama também como jornalista e advogado. A pandemia impediu que sua terra natal fizesse a festa do seu centenário, contudo, dentro do possível foram feitas as merecidas homenagens, inclusive com publicação de um livro e edição especial, com lapidação exclusiva para o momento. Entre seus poemas mais famosos destaco “Eulália”, “Ceará Selvagem” e “Trabalhadores”, é impossível auferir o tamanho da sua obra. Transcrevemos abaixo duas décimas do poema “Pirambu” e um dos seus encantadores sonetos “Inversão do Racismo”, retirados do livro “Carne e Alma”, obra prima da literatura brasileira.

Submundo de almas aflitas

Que estrebucham pra viver,

E vivem quase morrendo

Mas lutam pra não morrer;

Mundo infecto de palhoças

Sem privadas e sem fossas,

Sem jardim e sem quintal;

Sem um canto onde se pise

Sem que o sapato deslize

Nas fezes, no lamaçal.

***

Mundo que repugna aos olhos

Que faz mal ao coração;

Onde as crianças não têm leite

E os adultos não têm pão;

Mundo de miséria extrema,

Cujo difícil problema

O poder não encampou;

Deus não faz ponto final,

Mas chegou neste arraial,

Viu a tragédia e parou.

***

“O amor não racista…” – Ela dizia,

Quando em beijos ardentes me abrasava…

Ao seu peito, nervosa, apertava

Ao seu peito, nervoso, eu lhe prendia.

***

Era noite na praia, ninguém via

Aquele par que se beijando estava

Nos braços do cristão – ela sonhava!

E eu sonhava – nos braços da judia!

***

No templo azul daquela noite calma

Eu lhe deu uma Pátria, na minh’alma

Eu deu-me, em su’alma, a Canaã…

***

Desde então o racismo se inverteu

Vivo pensando que fiquei judeu

E ela jurando que ficou cristã!