Por Ademar Rafael Ferreira (Papa)
Ade Maleu Lapa-el – Sairé é uma dança? Tire-nos essa dúvida.
Papa – Entendo que Sairé, como o carnaval e as festas juninas, é uma manifestação folclórica que engloba várias danças. Encontramos em muitos estudos que o Sairé engloba cantos, danças, rituais religiosos e profanos em uma união que somente o fenômeno da miscigenação pode decifrar. Existiu em várias localidades da região Norte do Brasil, no entanto fixou residência e ganhou forma grandiosa em Alter do Chão, na pérola do Tapajós, a encantadora Santarém (PA). Para este cronista tem a força dos rodeios de Barretos e do frevo em Recife/Olinda.
Por um pouco mais de trinta anos – 1942/1973 – foi proibida a sua execução, em virtudes dos excessos que os censores viam no evento. Na retomada manteve a data de realização em julho. Em 1997 foi transferida de julho para setembro, nesta época foi introduzido ao evento o Festival dos Botos, outra forte corrente das “estórias” da região amazônica. É, de fato e de direito, um espetáculo digno de ser assistido, suas cenas ficam para sempre na memória.
Transcrevemos a letra de “Fogo do Sairé”, composição de Doka Fernandes e Maria Lídia: “Todo julho, todo ano/Há um festival profano na vila de álter-do-chão/Onde tupaiús, turistas, mocorongos, anarquistas/Formam uma só nação Deus Tupã se manifesta/E abençoa a grande festa desse povo em comunhão/Coração é alegria, quero dança e cantoria/Toca, toca espanta-cão.
Com a rima na ponta da língua/Com a dança na ponta do pé/Vou por terra, ar e água/Para o fogo do Sairé – Palavra de ordem, brincar noite e dia/Quem fica parado, estraga a folia/Rapaz que requebra demais quando dança/Atraca de popa, não poupa a poupança – Com a rima… – Quem vai pro escuro caçar gafanhoto/Ou pisa na cobra, ou topa com o boto/Perigo é namoro na beira da praia/Tem caco de vidro, piranha e arraia – Com a rima… – Cigarro que fede a palha queimada/Papai não a e mete a porrada/Cabra cachaceiro, vê se não fulera/Na próxima esquina, a polícia te espera – Com a rima… – Aqui, catraieiro, te dou um trocado/Me leva depressa lá pro outro lado/Ô, dona maria, acabe essa broca/E sirva um peixinho na sua maloca”.