42 – NA SEXTA UMA CESTA DE VERSOS

Por Ademar Rafael Ferreira (Papa)

Ade Maleu Lapa-el – Fale-nos sobre o norte rio-grandense Severino Ferreira.

Papa – Severino Ferreira da Silva, nasceu no distrito de Cajueiro, município de Touros (RN), em 30.03.1951. Cantador sublime, figura humana extraordinária e sensibilidade destacável. A deficiência visual não foi impedimento para se destacar nas cantorias convencionais e nos diversos festivais que participou. Da sua extensa obra retiramos as duas primeiras estrofes do livro “De Repente Cantoria” de Geraldo Amâncio e Vanderley Pereira e as três últimas do livro “Uma viagem ao reino encantado da cultura popular nordestina”, de Irani Medeiros.

Elogiei a medida

Por minha mãe praticada

Viu-se impossibilitada

De me dar roupa e comida.

Me deixou nascer com vida

Padeceu na gravidez

Outra mãe nobre e cortês

Com gosto me recebeu

Me dando o que ele não deu

Fazendo o que ela não fez.

***

Quando nasci era vivo

O pai que me fez gerado

Fui por ele abandonado

E não sei qual o motivo

Porém um pai adotivo

Com prazer me recebeu

Por mim trabalhou, sofreu

Me dando amor e respeito

Me oferecendo um direito

Que o pai legítimo não deu.

***

Em Cajueiro nasci

Em Boqueirão fui criado

Junto ao meu pai no roçado

Trabalhei muito e sofri

Estudar não aprendi

Por ser distante a escola

Nunca fui chegado à bola,

Pião, bodoque e carrinho…

Já via em frente o caminho

Da profissão de viola.

***

A vida que não me deu

Um curso superior

Me deu o dom de poeta

Destino de cantador

Por isso caço e não vejo

Quem foi o meu professor.

***

Aprendi com meu ado

E dessa visão sou fã

Que nada vale ser rico

Nem gigante nem titã

Dono de orgulho hoje

Será defunto amanhã.