Por Ademar Rafael Ferreira (Papa)
Ade Maleu Lapa-el – Fale-nos sobre o norte rio-grandense Severino Ferreira.
Papa – Severino Ferreira da Silva, nasceu no distrito de Cajueiro, município de Touros (RN), em 30.03.1951. Cantador sublime, figura humana extraordinária e sensibilidade destacável. A deficiência visual não foi impedimento para se destacar nas cantorias convencionais e nos diversos festivais que participou. Da sua extensa obra retiramos as duas primeiras estrofes do livro “De Repente Cantoria” de Geraldo Amâncio e Vanderley Pereira e as três últimas do livro “Uma viagem ao reino encantado da cultura popular nordestina”, de Irani Medeiros.
Elogiei a medida
Por minha mãe praticada
Viu-se impossibilitada
De me dar roupa e comida.
Me deixou nascer com vida
Padeceu na gravidez
Outra mãe nobre e cortês
Com gosto me recebeu
Me dando o que ele não deu
Fazendo o que ela não fez.
***
Quando nasci era vivo
O pai que me fez gerado
Fui por ele abandonado
E não sei qual o motivo
Porém um pai adotivo
Com prazer me recebeu
Por mim trabalhou, sofreu
Me dando amor e respeito
Me oferecendo um direito
Que o pai legítimo não deu.
***
Em Cajueiro nasci
Em Boqueirão fui criado
Junto ao meu pai no roçado
Trabalhei muito e sofri
Estudar não aprendi
Por ser distante a escola
Nunca fui chegado à bola,
Pião, bodoque e carrinho…
Já via em frente o caminho
Da profissão de viola.
***
A vida que não me deu
Um curso superior
Me deu o dom de poeta
Destino de cantador
Por isso caço e não vejo
Quem foi o meu professor.
***
Aprendi com meu ado
E dessa visão sou fã
Que nada vale ser rico
Nem gigante nem titã
Dono de orgulho hoje
Será defunto amanhã.