Por Ademar Rafael Ferreira (Papa)
Ade Maleu Lapa-el – Fale-nos sobre uma das lendas da cantoria, o poeta Zé de Cazuza.
Papa – José Nunes Filho nasceu em 13.12.1929 na Fazenda Boa Vista, em Monteiro (PB). Na apresentação do seu maravilho livro “Poetas Encantadores”, nosso eterno José Rabelo de Vasconcelos escreveu: “Mentalmente é uma pessoa superdotada. Sua inteligência, sua vontade e sua sensibilidade estão acima da média. Tem plena consciência disto. É nobre e digno. Sabe, sem arrogância, de seu valor e da sua importância na cultura de seu povo e de sua região”. Acrescento que é muito pouco o rótulo de “gravador humano” dado a Zé de Cazuza, em função da sua capacidade em armazenar um estoque infindo de versos e de histórias dos bastidores do mundo da cantoria. É, sem dever favor a ninguém, um poeta fantástico, um anfitrião de mão aberta e mesa com copos e pratos cheios.
Abaixo apresento uma quadra, feita após seu filho Felizardo receber alta de uma internação hospitalar que quase o levou a óbito. Foi recitada a mim pelo amigo e irmão Danizete Siqueira, as demais estrofes extrai do livro acima mencionado.
Deus que aos astros dá brilho
Fez vista grossa aos meus erros
Para não ver três enterros:
Da mãe, do pai e do filho.
***
Meu pai também é poeta
Meu avô foi outro bardo.
Dos sete filhos que tenho
Eu enxergo Felizardo
Um celeiro novo enchendo
Dessas relíquias que guardo.
***
Eu não vim mostrar ciência
Vim mostrar o meu valor
Vim aqui como poeta
E não como professor
Pois se eu fosse cientista
Não seria cantador.
***
O poeta não ver nada
Pelo lado da malícia.
Ama às vezes uma pessoa
Que não quer dele notícia
Alimentando na alma
Uma intenção fictícia.
***
A vida do homem louco
Eu acho muito incomum
a noite sem dormir
a dias em jejum
Viaja pra todo canto
Não vai a canto nenhum.
***
O pobre do retirante
Viaja sem rumo certo
Quando já vai fatigado
Acha um juazeiro perto
Parecendo um guarda chuva
Que Deus armou no deserto.