48 – NA SEXTA UMA CESTA DE VERSOS

Por Ademar Rafael Ferreira (Papa)

Ade Maleu Lapa-el – Fale-nos sobre uma das lendas da cantoria, o poeta Zé de Cazuza.

Papa – José Nunes Filho nasceu em 13.12.1929 na Fazenda Boa Vista, em Monteiro (PB). Na apresentação do seu maravilho livro “Poetas Encantadores”, nosso eterno José Rabelo de Vasconcelos escreveu: “Mentalmente é uma pessoa superdotada. Sua inteligência, sua vontade e sua sensibilidade estão acima da média. Tem plena consciência disto. É nobre e digno. Sabe, sem arrogância, de seu valor e da sua importância na cultura de seu povo e de sua região”. Acrescento que é muito pouco o rótulo de “gravador humano” dado a Zé de Cazuza, em função da sua capacidade em armazenar um estoque infindo de versos e de histórias dos bastidores do mundo da cantoria. É, sem dever favor a ninguém, um poeta fantástico, um anfitrião de mão aberta e mesa com copos e pratos cheios.

Abaixo apresento uma quadra, feita após seu filho Felizardo receber alta de uma internação hospitalar que quase o levou a óbito. Foi recitada a mim pelo amigo e irmão Danizete Siqueira, as demais estrofes extrai do livro acima mencionado.

Deus que aos astros dá brilho

Fez vista grossa aos meus erros

Para não ver três enterros:

Da mãe, do pai e do filho.

***

Meu pai também é poeta

Meu avô foi outro bardo.

Dos sete filhos que tenho

Eu enxergo Felizardo

Um celeiro novo enchendo

Dessas relíquias que guardo.

***

Eu não vim mostrar ciência

Vim mostrar o meu valor

Vim aqui como poeta

E não como professor

Pois se eu fosse cientista

Não seria cantador.

***

O poeta não ver nada

Pelo lado da malícia.

Ama às vezes uma pessoa

Que não quer dele notícia

Alimentando na alma

Uma intenção fictícia.

***

A vida do homem louco

Eu acho muito incomum

a noite sem dormir

a dias em jejum

Viaja pra todo canto

Não vai a canto nenhum.

***

O pobre do retirante

Viaja sem rumo certo

Quando já vai fatigado

Acha um juazeiro perto

Parecendo um guarda chuva

Que Deus armou no deserto.