Sem gerar poupança, Pernambuco vive ciclos de crise e crescimento medíocre quando não toma empréstimos

FERNANDO CASTILHO

Por Fernando Castilho/JC

Independentemente de que seja o próximo governador de Pernambuco, a perspectiva de acelerar um pouco mais o crescimento já está dada uma vez que nos últimos 24 anos repetiu-se um padrão onde o eleito recebe o Estado em crise, organiza as contas e o entrega ao sucessor.

Este, por sua vez, acelera os investimentos – com base em empréstimo e transferências da União – e o entrega, em crise, ao sucessor que por sua vez reinicia o processo de restauração até que o novo eleito vai poder gastar de novo.

O ciclo que já dura 24 anos. Começou com as istrações Jarbas Vasconcelos/Mendonça Filho que recebeu o Estado em grave crise após o terceiro governo Miguel Arraes.

Jarbas conseguiu alavancar recursos com a venda da Celpe, mas pagou um valor equivalente ao que recebeu pela empresa em dívidas deixadas por Arraes e, oito anos, depois entregou o Governo com as contas organizadas a Eduardo Campos a quem apoiou na campanha.

Eleito no segundo governo Lula, e com forte apoio dele, Eduardo Campos catapultou os investimentos já no primeiro mandato. Mas fez isso com empréstimos contraídos em dólar e com um expressivo volume de transferências voluntárias do Governo Federal.

Foi o período de maior crescimento em 30 anos com a chegada de investimentos como o Estaleiro Atlântico Sul, (negociando ainda por Jarbas Vasconcelos) seguido da PetroquimicaSuape (PQS) e da Refinaria Abreu e Lima cuja pedra fundamental tem as digitais de Lula, Hugo Chávez e Eduardo Campos.

O sucesso de sua istração o levou a disputar a presidência da Republica em 2014 na condição de ter feito uma istração revolucionária em sete anos em que esteve a frente do Governo de Pernambuco.

Paulo herdou as dívidas

Escolhido para continuar sua obra, Paulo Câmara sofreu – com os pernambucanos – a dor de perda de uma dos políticos de maior perspectiva num trágico acidente aéreo.

Mas na entrega do Governo a Paulo Câmara, depois do período de transição com João Lyra Neto, veio junto com a repetição do desastre nas finanças que Jarbas herdara de Miguel Arraes agravada com a crise do segundo Governo Dilma Rousseff que nos legou o segundo processo de Impeachment do Brasil em menos de 30 anos.

O fenômeno da “conta herdada” a pagar se repetiu. O atual chefe do Executivo pernambucano cumpriu diligentemente a missão de pagar os empréstimos contratados e tentar refazer as finanças públicas como alias na época fez o secretário da Fazenda, Jorge Jatobá a depois a secretária Maria José Briano, no governo Jarbas.

Desta forma, quando se observa o foco do governo Paulo Câmara na Economia, é possível observar a quantidade de energia que ele gastou, ao lado do secretário da Fazenda, Décio Padilha apenas para pagar os empréstimos contratado em dólar feito pelo gestão anterior.

Para completar, ele precisou atravessar a crise de 2015 e 2016 onde Pernambuco – que teve taxas de crescimento semelhantes à China –  viu desaparecer 50 mil empregos no seu Estado. Além de ver paralisado a construção de projetos com a Refinaria e da PetroquimicaSuape, esta vendida ao grupo empresarial mexicano Alpek que está finalizando o projeto com sucesso.

O governo Paulo Câmara também viu a paralisação dos negócios do Estaleiro Atlântico Sul eliminando os sete mil empregos que chegou a ter além dos 20 mil da refinaria que também parou no meio do caminho e hoje funciona apenas com a metade de sua capacidade projetada.

Jeep muda PIB Industrial

Felizmente, Pernambuco tinha conquistado a planta da Jeep, depois FCA e atual Stellantis que com o seu sucesso de mercado, definitivamente, ajudou a que a queda no nosso parque industrial não fosse mais acentuada.

Apesar de tudo, e depois de seis anos de deserto, parece claro que Paulo Câmara pode respirar num pequeno Oasis.

Ano ado, por exemplo, ele conseguiu investir R$ 1,8 bilhão. É bem menos que estados como o vizinho Alagoas que catapultou a receita de investimentos com a venda da sua companhia de saneamento (Casal) com um ágil que surpreendeu o mercado.

Mas um estudo (RROE do 6º Bimestre de 2022), da Secretaria Nacional do Tesouro ainda não disponível para consultas e antecipado, na semana ada, a s do site Poder 360 revela que Pernambuco foi o 17º em investimentos em 2021. Atrás de estados menores como Alagoas (R$ 3,9 bilhões) e Piauí (R$ 1,9 bilhão).

Tudo isso apenas reforça o modelo de como o Estado de Pernambuco não consegue se libertar da incapacidade de gerar poupança suficiente que o habilite a se colocar como um player regional capaz de acelerar o crescimento sem depender tanto da ajuda da União e de empréstimos em dólar.

Mas o governador teve um pouco de sorte, em 2021, quando o dólar explodiu. É que a desvalorização do real pegou Pernambuco com a conta já no final dos empréstimos de modo que ele hoje tem um endividamento de 36,14% de sua Receita Corrente Líquida. Imagina uma valorização do dólar quando, em 2015, Pernambuco devia 72,77% do que arrecadava no ano?

Assim, na próxima eleição, o sucessor de Paulo Câmara terá situação semelhante a que Eduardo Campos encontrou, ao menos, em capacidade de empréstimos.