Mais um ex-aluno de escola pública, desta vez do Sertão de Pernambuco, aprovado em medicina na USP

ACERVO PESSOAL

De Sertânia, no Sertão do Estado, o jovem José Antônio da Silva Nascimento, 19 anos, será mais um pernambucano a integrar o time de calouros de medicina da Universidade de São Paulo (USP), no campus Ribeirão Preto, no primeiro semestre letivo de 2022. Ele foi aprovado em segundo lugar, na primeira edição do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), entre os candidatos egressos de escolas públicas e com recorte racial (autodeclarados pretos, pardos ou indígenas). Foram três anos de muita dedicação até conseguir a tão sonhada vaga na concorrida instituição paulista. Será colega de Rafael Souza, 17, ex-aluno da rede estadual de Recife também aprovado no mesmo curso e unidade acadêmica.

José Antônio concluiu o ensino médio em 2018 na Escola de Referencia em Ensino Médio Olavo Bilac, que fica no Centro de Sertânia, igualmente da rede estadual e que funciona no modelo de ensino integral. Na seleção da USP, tirou média 798.13. Havia somente seis vagas na cota que disputou.

Em 2019, José Antônio fez um cursinho pré-vestibular na vizinha cidade de Arcoverde. Com a pandemia de covid-19, iniciada nos primeiros meses de 2020, ou a estudar sozinho em casa, assistindo a aulas gratuitas no Youtube. Precisou interromper para ajudar a família que tem um pequeno comércio no Centro de Sertânia. O pai adoeceu e ele teve que assumir sua tarefa. Só retomou a preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) faltando poucos meses para as provas. Por isso, não teve boas notas.

Ano ado, quando conseguiu focar mais nos estudos, melhorou o desempenho que rendeu a classificação na USP. “O ensino público é limitado. Às vezes falta professor. Tem uns dedicados, outros nem tanto. São muitas dificuldades. Acho que a escola pública não prepara bem o aluno para entrar em cursos muito concorridos como medicina”, comenta José Antônio.

Os pais são pequenos comerciantes. Têm um estabelecimento que vende frutas, verduras e frios. “Desde pequeno quero ser médico. Nem sempre encontramos profissionais que dão atenção ao paciente. Por isso penso em cursar medicina”, diz José Antônio.

“Mas durante o caminho a gente percebe que é muito difícil conseguir aprovação. ei um longo período desanimado. Só comecei a estudar mesmo para o Enem quando acabei o ensino médio. Muitos me desencorajaram, diziam que era impossível. Não foi nada fácil ouvir de professores e colegas que tentasse outro curso. Mas minha família sempre me apoiou”, conta o jovem.