PERNINHA EM NOVA VERSÃO

Oh! Quarta-feira ingrata. Será mesmo?

Por Danizete Siqueira de Lima

Antigamente, o bordão acima, era muito usado na despedida dos carnavais que aconteciam a cada ano, quando o chororô começava na virada da terça-feira, último dia da festa. Hoje, 26/02, finalmente acabou o Carnaval, pelo menos na maior parte do país, já que cidades como Olinda, Recife, Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo a festa ainda se estenderá por alguns dias.

Desligados os trios elétricos, silenciados os atabaques e tamborins, fechadas as cortinas dos palcos e apagadas as luzes, alguns istas ainda dormem pelas praças do frevo, mas, é chegada a hora de fazermos uma avaliação de como tudo transcorreu durante o reinado de Momo. A única dúvida que não temos é a de que os vendedores de abadás, donos de cervejarias, proprietários de trios elétricos e artistas tradicionais ligados ao mundo carnavalesco, riem à toa, enquanto pais e mães de família sepultam corpos de seus entes queridos que foram arrebatados pela violência da festa.

Dentro dos nossos 63 anos bem vividos (graças a Deus), ficamos impressionados com as alterações bruscas que ocorreram ao longo dos últimos anos. E não há como esconder que essas mudanças vieram para pior. Para isso, basta observarmos o balanço feito pela mídia ao final das comemorações, apesar de tudo que se esconde por trás dos bastidores, pois tem coisas que a imprensa é orientada para não divulgar, ou seja, tentam a todo custo varrer a sujeira para debaixo do tapete mostrando somente o lado positivo da festa: Aquela parte que agrada aos turistas rende divisas e dá ibope.

Temos consciência que muitos discordam do nosso ponto de vista, mas, os sexagenários como nós, tem uma visão bem diferente sobre os carnavais de hoje em dia. Antes, nós brincávamos em família, havia segurança, muito calor humano e descontração, quer fosse nas ruas, nas casas dos amigos ou nos clubes que frequentávamos.

Não existiam as drogas, tanta violência, as bebidas eram servidas com moderação e os nossos jovens e adolescentes tinham limites impostos pelas criações rígidas de pais responsáveis e comprometidos com a sociedade. As confusões de ruas eram apaziguadas entre nós mesmos. Vez por outra precisávamos levar um bêbado na casa dos pais e éramos recebidos pela família com festa e agradecimentos.

Não dávamos trabalho à polícia que, convenhamos, quase não existia. O efetivo policial era o mesmo do dia a dia e praticamente não era acionado; O gosto pela boa música era preservado, o respeito e os bons costumes davam as cartas durante toda a folia. Os idosos tinham sossego e as crianças tinham os seus espaços nas matinês do domingo à tarde, sempre bem vestidas, com trajes a rigor e acompanhadas dos respectivos pais.

Ao final da festa podíamos repetir à exaustão a marchinha que deu nome a esta crônica: Oh! Quarta-feira ingrata/ chegou tão depressa/ só pra nos contrariar. Ali a única coisa que nos restava era a saudade e o fiel compromisso de ter que esperar por mais um ano para vivermos novas emoções. Era mais ou menos como diria o rei Roberto Carlos: velhos tempos, belos dias.

De sobra, a nossa melhor opção para hoje à noite, ainda na ressaca da festa, é irmos ao Valdemar Viana de Araújo torcer para que a Coruja Sertaneja possa fazer um voo histórico frente à representação do Atlético Mineiro, pela Copa do Brasil.

(*) As crônicas de Danizete Siqueira de Lima estão sendo reproduzidas enquanto durar as suas férias. Essa foi publicada no dia 26 de fevereiro de 2020.