26 – NA SEXTA UMA CESTA DE VERSOS

Por Ademar Rafael Ferreira (Papa)

Ade Maleu Lapa-el – Conte-nos um pouco de Manoel Filó.

Papa – Manoel Filomeno de Menezes, para este apologista e de acordo com o pensamento de muitos que com ele conviveram foi o mais fidalgo entre os poetas que pisaram no mundo. Rimas perfeitas, métrica impecável e imagens deslumbrantes as marcas da obra desse sertanejo que nasceu em 1930 no Sítio Tabuado, em Jabitacá, distrito de Iguaracy (PE). As estrofes abaixo, publicadas em redes sociais, pelo seu sobrinho Maurício, servem como pequena demonstração da sua produção poética. O livro “As curvas do meu caminho”, publicado em 2004, carrega parte do que Manoel Filó nos presenteou. É uma das mais belas publicações do mundo da poesia.

“A vaca levanta o casco

No dia que tem chovido:

Sacode a lama no mato,

Que só acho parecido

Com uma mecha de enxada,

Quando a cunha tem caído

Bonito é ver-se uma enchente

Ao clarão da lua cheia,

Se alargando no baixio,

Trazendo bancos de areia,

Salvando um campo de milho

Que a folha virou correia.

Tenho visto, muitas vezes,

Uma galinha pequena

Juntar sua filharada

Numa manhã que serena,

Deixa os pintos respirando

Por entre as falhas da pena.

Quando o inverno começa

Fica o mundo transformado.

O mato que apodrece,

No aceiro do roçado,

Fica desprendendo um cheiro

De bacalhau cozinhado.

Quando a chuva principia

Se recomeça o trabalho.

Quem olhar, vê, pelas plantas,

Milhões de pingos de orvalho,

Como se houvesse um rosário

Pendurado em cada galho.

Depois disso, a tanajura

Por cima da terra mole,

O cururu se aproxima

Com a barriga de fole,

Estira a língua pra ela,

Se se descuida, ele engole”.