Por Ademar Rafael Ferreira (Papa)
Ade Maleu Lapa-el – Fale-nos sobre o poeta das Varas, seu pai Quincas Rafael.
Papa – Joaquim Rafael de Freitas, o Quincas Rafael, nasceu em Afogados da Ingazeira em 02.03.1921. Autodidata e contador de histórias e “estórias” minha grande de fonte de inspiração como cidadão e incentivador extremo. Escreveu os livros “Afogados deu de tudo”, somente com poesias e “Jabitacá segundo Quincas”, com relatos sobre personagens do Pajeú, destaque para o cangaceiro Adolfo Rosa Meia Noite e poesias. Nas estrofes abaixo um pouco da produção do “Poeta das Varas”, a primeira de arquivos do Instituto Cultural Quincas Rafael (ICQR), e as demais da sua obra escrita no segundo livro. A paixão que tenho em relação à leitura e a capacidade de escrever são heranças recebidas de grande libertário do Sítio Quixaba.
Brasil da disparidade
Aonde a criança morre
Onde o poder não socorre
Do pobre a necessidade
Quanto maior a cidade
Maior a falta de pão
Não haverá produção
Enquanto Delfim der fim
Se não der fim a Delfim
Delfim dá fim a nação.
***
Por eu ser tão cabeçudo
Levei a vida a sofrer
E para sobreviver
Na vida já fiz de tudo
Devido meu pouco estudo
Quase nada fui na vida
Sou estrela opaquecida
Numa noite de escuro
Talvez que Deus no futuro
Diminua minha lida…
***
…Eu fui um desmiolado
Nunca tomei um conselho
Hoje sirvo de espelho
Pra quem é desmantelado
Olho a reta do ado
E vejo que esmaguei
Tanta coisa que gastei
Sem haver necessidade
Até minha mocidade
Sem precisão estraguei.
***
Aquele que muito andou
Está perto de chegar
O fim desta grande reta
Vejo um pano tremular
Já vou descendo a ladeira
Por certo é a bandeira
Mostrando onde vou parar.