52 – NA SEXTA UMA CESTA DE VERSOS

Por Ademar Rafael Ferreira (Papa)

Ade Maleu Lapa-el – Para encerrar essa série fale-nos sobre Zezé Lulu.

Papa – José Gomes do Amaral – Zezé Lulu, nasceu no dia 04.12.1916 no Sítio Serrinha – São José do Egito (PE), integrante da geração dos cantadores raiz, isto é, poetas que faziam da profissão um sacerdócio e que em suas estrofes a sensibilidade saltava aos olhos. Tive a felicidade de ouvir esse poeta, tenho por ele uma iração extrema.

As três primeiras estrofes abaixo transcritas foram extraídas do livro “São José do Egito – Musa do Pajeú”, de Terezinha Costa e as demais do livro “Roteiro de velhos cantadores e poetas populares do Sertão”, de Luís Wilson. Desejamos um Feliz Ano Novo a todos os nossos leitores.

Eu iro a aranha

Pela casa que constrói

Cavar no chão um buraco

Pra que aquele lhe apoie

Botar-lhe mais um tampa

Que nem a chuva destrói.

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Em cima do pé uva

O canário e vem-vem

E a rolinha saudosa

Pousa pra cantar também

E o concriz canta olhando

As cores que a pena tem.

***

A minha casa é roseira

Com as folhas orvalhadas

Oito rosas perfumadas

Perfumando a vida inteira

Por mim e minha caseira

A roseira é protegida

A quinta e nossa guarida

Nós somos os zeladores

OS MEUS FILHOS SÃO AS FLORES

DO JARDIM DA MINHA VIDA.

***

O que mais me desanima

É fazer comparação

Do boi que recebe a canga

Para primeira instrução.

Se corre apanha na venta

Se para leva ferrão.

***

Quando eu soube da notícia

Que morreu tua filhinha

ei o dia na feira

Mas alegria não tinha

Com muita pena da tua

Com mais cuidado da minha.

***

Já está chegando a hora

Da minha linda “galega”

Sair lá pelo terreiro

Dando ração a borrega

E perguntando: “Mamãe

quando é que papai chega”.