Por Roberta Soares/JC
O reajuste zero e a implantação do Bilhete Único Metropolitano foram medidas excelentes, principalmente para a imagem política do governo de Pernambuco, e seria muita crueldade, diante do serviço de transporte público que está sendo ofertado, aumentar a agem de ônibus. Mas o ageiro quer mais, muito mais. Tem sofrido muito nos ônibus da Região Metropolitana e no Metrô do Recife, e nunca esperou tanto por alguma melhoria.
Pelo menos os que dependem do transporte público para o deslocamento diário e ainda não se renderam ao Uber e 99 Moto, por exemplo. Mas está difícil ser usuário do Sistema de Transporte Público de ageiros (STPP) na RMR. Assim como no Metrô do Recife.
Os ônibus do Grande Recife estão quentes, velhos, superlotados e muito ruins. No Metrô do Recife é quase inável de viajar, especialmente nos horários de pico da manhã e noite. São quebras semanais e intervalos de até 20 minutos entre os trens, cada dia mais superlotados.
A frota de ônibus do sistema está velha e sem perspectiva de renovação em sua maioria. A exceção são as concessionárias, Consórcio Conorte e MobiBrasil, que por terem contrato, têm prazos a cumprir e garantia legal de equilíbrio entre receita e custo.
Dados oficiais do Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano confirmam que a frota está bastante envelhecida, o que impacta diretamente na operação do sistema. Nos seis primeiros meses de 2023, o sistema tinha ônibus com 5,8 anos e 6 anos de uso.
Confira a idade da frota por empresa nos primeiros seis meses de 2023:
- Borborema – 5,734 anos
- Caxangá – 5,465 anos
- Empresa Metropolitana – 5,450 anos
- Globo -4,923 anos
- Consórcio Recife (Pedrosa e Transcol) – 6,065 anos
- São Judas Tadeu – 5,588 anos
- Viação Mirim – 3,336 anos
- Vera Cruz – 5,876
Calor é desumano e frota com ar-condicionado é pequena e tem problemas de refrigeração
Menos de 18% da frota de coletivos do Grande Recife têm ar-condicionado e, o que é pior, não há perspectivas de grandes ampliações. Além disso, a frota refrigerada também está velha, transformado os coletivos em verdadeiras “prisões-saunas”, que muitas vezes obrigam os ageiros a interromperem a viagem para não desmaiar.
“Está, de fato, desumano. Já não temos muitos ônibus com ar-condicionado e, os que têm, em sua maioria, estão velhos e, consequentemente, têm problemas de manutenção. Há momentos do dia que são sufocantes. E os ônibus vedados são ainda piores, como os BRTs. Já vi muitas pessoas arem mal”, relata o universitário Cláudio Souza Filha, 23 anos, que todos os dias usa o sistema para chegar a UFPE e ao trabalho.
O Sistema de BRT pernambucano, batizado de Via Livre, também tem sofrido com a caducidade da frota e o calor. Mesmo sendo operado por concessão pública, a modernização da frota também é regulada pelo Estado.
O Corredor de BRT Norte-Sul, como sempre, sofre mais. Os BRTs tradicionais – os gigantes veículos de 21 metros – estão com dez anos de operação e muito velhos, situação, importante dizer, antecipada pela circulação no destruído (e agora em reforma) corredor da PE-15, que até no barro já ficou – impossibilitado, inclusive, a operação do sistema. Quem lembra?
Até mesmo os “Novos BRTs” como foram denominados os veículos menores que substituíram os tradicionais BRTs, já começam a apresentar problemas de refrigeração. ageiros reclamam que a superlotação dos coletivos nos horários de pico potencializa o calor.
“Viajamos num verdadeiro forno. Só quem usa sabe. O poder público precisa ver isso. A temperatura está muito alta na rua, imagine dentro dos ônibus. Eu costumo usar o BRT do Recife para Paulista e já tive que descer no meio da viagem porque a temperatura no interior do veículo estava inável”, conta Marília Cintra, vendedora que usa o sistema diariamente.