Em Pernambuco e no País, ônibus e metrôs seguem em segundo plano

FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

O transporte público da Região Metropolitana do Recife padece. Mais uma vez e novamente. Conseguiu superar em parte a crise econômica provocada pela pandemia de Covid-19, que impactou o setor nacional e mundialmente, mas segue com problemas estruturais que não conseguem ser vencidos. Não importa a gestão política. O PSB não conseguiu em 16 anos à frente da coordenação do sistema, e o atual governo do PSDB também não tem avançado como se esperava e deveria.

O transporte público do Grande Recife e da maioria das metrópoles brasileiras parou no tempo. Ficou velho, desatualizado. Não se modernizou. Segue com problemas ultraados, inimagináveis com a modernidade do mundo atual. Por isso, mais afastam do que aproximam o ageiro.

Não é à toa que dados oficiais mostram que os sistemas de ônibus do País estão perdendo quase 20 mil ageiros por dia, pelo menos desde 2014. Houve uma recuperação no pós-pandemia, mas o sentimento do usuário é de que tudo continua ruim e só usa quem não tem outra opção. No Recife, no Grande Recife, em Pernambuco e no Brasil inteiro.

Os dados de perda de ageiros fazem parte do Anuário NTU 2023-2024, elaborado pela Associação Nacional das Empresas de Transporte de Transportes Urbanos (NTU). Em 2023, os ônibus urbanos transportaram menos 19,1 milhões de ageiros equivalentes (pagantes) por dia, em relação à quantidade transportada em 2014.

Em comparação a 2019 – antes da pandemia de Covid-19, 2023 fechou com uma queda de 25,8% da demanda de usuários. Segundo o Anuário da NTU, isso significa que, nos últimos quatro anos, um em cada quatro ageiros deixou de utilizar o transporte coletivo por ônibus nas nove capitais e Regiões Metropolitanas pesquisadas – entre elas o Recife.

Essa leitura vale tanto para os ônibus como para o Metrô do Recife. O transporte metropolitano sobre trilhos, aliás, só perdeu ageiros e viu sua demanda cair quase na metade com a agem cara e o serviço ruim, com quebras, lentidão e perda da confiabilidade junto ao ageiro. Mesmo sendo fundamental para o deslocamento de quase 200 mil pessoas por dia e atendendo ao Recife e a três dos maiores municípios da RMR: Camaragibe, Jaboatão dos Guararapes e Cabo de Santo Agostinho.

No caso dos ônibus, a ausência de reajustes das agens e a unificação dos anéis tarifários, extinguindo o A, usado por 20% dos ageiros da RMR, foram importantes ações para evitar a fuga de mais clientes e garantir a entrada de outros. Mas não significaram melhorias na qualidade do serviço. O benefício foi mais político para o governo do Estado do que prático para o setor, seja para a maioria dos ageiros, seja para os operadores.

Já o Metrô do Recife segue sem investimentos efetivos para recuperar sua infraestrutura física e, principalmente, rodante, ou seja, os trens. Vem sobrevivendo – mesmo na gestão federal do PT – com pouco mais de 50% dos recursos necessários apenas para o custeio da operação e com o processo de operação privada cada vez mais certo. Enquanto os ageiros pagam uma tarifa mais cara que a do ônibus e, na maioria das viagens, sofrem com o calor e a lentidão dos trens.