O Globo
A crise provocada pelas fraudes do INSS levou o Palácio do Planalto a fazer uma intervenção direta no Ministério da Previdência Social e na autarquia. O novo ministro da Previdência, Wolney Queiroz, e o chefe do órgão, Gilberto Waller Júnior, aram a semana despachando no Planalto e com todas suas decisões coordenadas por ministros próximos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Nenhuma medida de Queiroz e Waller Júnior vai adiante sem a chancela do ministro da Casa Civil, Rui Costa, e da secretária-executiva da pasta, Miriam Belchior. A ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, e o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Sidônio Palmeira, também têm liderado as decisões mais estratégicas de resposta do governo à crise gerada pela revelação dos descontos fraudulentos em aposentadorias e pensões.
Cabe a Rui Costa ar um relatório diário sobre o estágio da crise por telefone a Lula, que está em Moscou. Auxiliares do presidente afirmam que a estratégia de centralizar as decisões no Palácio do Planalto foi uma tentativa de evitar ruídos e impedir que a crise se expanda. Também pesa o fato de que tanto Wolney quanto Waller Júnior assumiram os cargos com a crise em curso, não têm experiência nas respectivas funções e estão montando novas equipes.
Pelo menos até que as mudanças no sistema e cadastramento de beneficiários prejudicados estejam na rua, Wolney e Waller deverão seguir indo diariamente ao Planalto. Sem salas fixas, ambos se dividem entre uma série de agendas na Casa Civil e na Secretaria de Relações Institucionais, no quarto andar do Planalto, além da Secom, localizada no segundo andar. Nesta quinta-feira, por exemplo, as reuniões foram concentradas na pasta comandada por Sidônio Palmeira.
Integrantes do governo que têm participado dessa força-tarefa afirmam que o ministro da Previdência e o presidente do INSS só terão total autonomia sobre seus respectivos cargos quando o Planalto identificar que a crise está estancada e que a população ou a identificar que o problema vem sendo resolvido pelo governo. Até lá, tudo será centralizado pelos ministros mais próximos a Lula.
Entenda a investigação
A Polícia Federal (PF) e a Controladoria-Geral da União (CGU) deflagraram no fim de abril uma megaoperação para combater descontos não autorizados em aposentadorias e pensões pagas pelo INSS. O chefe do órgão, Alessandro Stefanutto, foi afastado do cargo por decisão judicial e depois demitido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A operação, que envolveu centenas de policiais e auditores, foi autorizada pela Justiça do Distrito Federal para combater um esquema nacional de descontos associativos não autorizados em aposentadorias e pensões. As investigações apontam que a soma dos valores descontados chega a R$ 6,3 bilhões, entre 2019 e 2024, mas ainda será apurado qual porcentagem foi feita de forma ilegal.
As investigações apontaram que havia descontos sobre valores pagos mensalmente pelo INSS como se os beneficiários tivessem se tornado membros de associações de aposentados, quando, na verdade, não haviam se associado nem autorizado os descontos.
Após a operação, o governo suspendeu todos os acordos que previam desconto nas aposentadorias.