A opinião do favorito de Lula para presidir o PT sobre a Venezuela e Maduro

O prefeito Edinho Silva, ex-ministro da Secretaria de Comunicação do governo Dilma Rousseff

Por Malu Gaspar/O Globo

A relação do Brasil com a Venezuela continua sendo uma potencial fonte de problemas não só para o presidente Lula, mas também no PT. Em entrevista que teve parte publicada no domingo (03), Edinho Silva, candidato preferencial de Lula para presidir o partido, evitou chamar o regime de Nicolás Maduro de ditadura. Mas deixou claro que tem opinião diferente da atual presidente, Gleisi Hoffmann sobre as eleições venezuelanas. ”O momento é muito delicado para abrir mão da defesa da democracia”, disse Edinho Silva no trecho da entrevista abaixo.

A postura contrasta com a nota do PT publicada no final de julho, logo após as eleições em que Maduro se proclamou vencedor apesar das diversas evidências de fraude, e das quais até hoje Maduro não apresentou as atas de votação. Na nota, o PT chamou o processo eleitoral venezuelano de “jornada pacífica, democrática e soberana”. Nos dias seguintes às eleições, a ditadura de Maduro prendeu centenas de opositores em manifestações pela apresentação das atas.

“Temos a certeza de que o Conselho Nacional Eleitoral, que apontou a vitória do presidente Nicolás Maduro, dará tratamento respeitoso para todos os recursos que receba, nos prazos e nos termos previstos na Constituição da República Bolivariana da Venezuela”, disse o PT.

Para Edinho Silva, porém, o que importa é a opinião de Lula, que até hoje não reconheceu o resultado da eleição. A seguir, trechos da entrevista:

O apoio do Brasil à Venezuela virou assunto na eleição. As pesquisas mostraram que toda vez que Lula defendeu Maduro, teve um revés em popularidade. Nós acabamos de ver o Maduro chamar o embaixador e a Assembleia Nacional ameaçar declarar o Celso Amorim persona non grata. Você vê como uma oportunidade para o governo Lula se distanciar?

Eu não acho que seja uma oportunidade. Mas a gente não pode abrir mão da defesa da democracia. Em hipótese alguma podemos abrir mão disso. Até porque estamos vivendo um momento historicamente delicado no mundo.

Mas o PT defendeu o governo Maduro com todos os problemas que houve na eleição.

Mas hoje o posicionamento do governo Lula é muito claro em defesa da democracia.

Diferente do partido.

A gente não pode também ser conivente com embargos, retaliação…

Mas dá pra fazer as duas coisas, não dá?

Dá, a gente não pode ser a favor dos embargos e tem que defender a democracia

Mas o PT diz que a eleição na Venezuela foi limpa. Você concorda? A Venezuela é uma democracia?

Eu não tenho todos os elementos para saber porque a direção do PT se posicionou assim. Não tenho. Eu não estou na direção do PT, então não vou julgar. O que eu vou repetir aqui é que eu penso que o momento histórico que estamos vivendo é muito delicado e a gente não pode abrir mão da defesa da democracia. Como eu acho também que a gente não pode também não se posicionar em relação aos embargos. Olha a situação que o povo venezuelano está vivendo, que o povo cubano está vivendo. A gente não pode ignorar isso.

E qual seria a forma de romper esse isolamento?

A tem que começar a defender que o povo venezuelano tem que ter o ao mínimo de dignidade para viver, que o povo cubano tem que ter o ao mínimo de dignidade para viver.