A trajetória de 50 anos de Gonzaga Patriota, nascido na terra de Etelvino Lins

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Por Machado Freire

Depois de Etelvino Lins de Albuquerque – que foi interventor, governador, deputado federal, senador  e ministro do TCU, o município sertanejo de Sertânia ( inicialmente  batizado por Alagoa de Baixo  e que recebeu  nova denominação  pelo jornalista Mário Melo), o político mais importante (que está vivo e com muita disposição  de continuar na vida pública) )  é o seu conterrâneo Gonzaga Patriota, com meio século de  atividade e hoje primeiro suplente de deputado federal pelo PSB de Pernambuco, depois de receber mais de 67 mil votos no pleito de 2022.  Faltou pouco para Patriota  emplacar o décimo mandato na Câmara Alta da República.

Etelvino Lins – que  permaneceu  por toda a vida ligado  à política conservadora de Getúlio Vargas e Agamenon Magalhães e a  defesa do golpe de 1964,  teve a oportunidade de  logo cedo  se mudar para o Recife, onde   frequentou  os melhores colégios e se formou  em Direito,  enquanto  Gonzaga Patriota, filho do agricultor  Sebastião Alves Freire e da dona de casa  Elisa Patriota   suou muito para chegar ao ponto de partida de sua bem sucedida  luta  profissional e política.

Com certeza, o casal (Sebastião e Elisa) –  que nasceu e se criou  no Sítio Soares do Meio, jamais imaginou que  um dos seus  12 filhos (6  homens  e 6 mulheres)   seria protagonista de um projeto de vida pública totalmente diferente dos seus irmãos e parentes que nasceram e se criaram na região .  Próximo a ele, só o irmão Sebastião Alves Freire  ( Alvinho Patriota) ,  que teve uma atuação política destacada em Salgueiro ao longo de cinco mandatos de vereador.

Diferente de Etelvino Lins,  as pessoas  nascidas e criadas no Sítio Soares e arredores, contavam  com o apoio da professora Auristela Holanda  (falecida), cuja família  era entrelaçada  com os  Alves e os Freire, que por  bastante  tempo  renderam homenagens à querida e inesquecível  educadora, responsável pelo desenvolvimento da educação  de um grande numero de alunos que, a exemplo dos filhos de Dona Elisa e Seu Sebastião  se prepararam para ingressar na Rede Ferroviária Federal,  onde   Gonzaga Patriota conseguiu o primeiro emprego aos 16 anos  e chegou à  chefia  da Estação da Rede  em Salgueiro.

Na antiga Alagoa de Baixo,  Gonzaga Patriota  enfrentou o poder  dominante-  na pessoa de  Arlindo Ferreira, que foi seu professor, e  detentor de  três mandatos de prefeito . Como os tempos mudaram, a família Ferreira de Sertânia  aliou-se ao ex-governador Miguel Arraes e  hoje ex-deputado e o atual prefeito  Ângelo Ferreira (filho do professor Arlindo)  é um grande aliado de Gonzaga Patriota.

A chegada a Salgueiro, na década de 60 – no advento do golpe de 1964,  contribuiu decisivamente  para o jovem ferroviário  Gonzaga Patriota participar dos movimentos sociais e políticos – de um lado os estudantes e, do outro,   a fase do pré-golpe militar que  traria  terríveis consequências à democracia que acabara de enfrentar as crises vividas na fase pós Segunda Guerra Mundial e à queda de Getúlio Vargas.

Gonzaga Patriota ou a conviver (e combater)   as mazelas de uma  pendenga político-eleitoral envolvendo  dois grupos políticos (ambos aliados dos golpistas de 1964)  e no momento em que o município perdia a Rede Ferroviária, que teve suas atividades suspensas a partir da década de 70,    enquanto  governo militar  implantava a pavimentação das  BRs- 232 e 116 (maior entroncamento rodoviário do Nordeste) criando oportunidades de trabalho e a melhoria no comercio local.

Apesar das dificuldades de comunicação  (até o telefone convencional era difícil),  as oposições aram a se articular (como podiam)  com a  criação dos diretórios do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) liderado em Pernambuco por Marcos Freire, Fernando Lyra,  Cristina Tavares, Roberto Freire, entre outros.

Foi ai que Gonzaga Patriota -estudante do  Colégio Dom Malan,  ou a trabalhar com o diploma de  contador e  se integrou ao grupo de oposição no município mais importante do Sertão Central e, consequentemente,  ampliando o poder de fogo da oposição.  Criar diretórios e participar das eleições municipais eram iniciativas muito importantes porque a oposição ava a ter o seu palanque e candidatos próprios:  Gonzaga Patriota foi candidato a prefeito de Salgueiro em 1976, enquanto estudava Direito na Cidade do Crato (CE) enfrentando dois candidatos  governistas, sem nenhuma chance de vitória.

O grupo fazia oposição às lideranças concentradas nas famílias Sá e Sampaio,   fieis escudeiros do regime ditatorial:  Uma ala liderada pelo o médico Severino Alves de Sá  (que foi deputado estadual e prefeito do município); do outro lado, o seu parente próximo e também médico e ex-prefeito Romão de Sá Sampaio.  Ambos se amparavam politicamente  nas sublegendas Arena Um e Arena Dois, que eram a mesma coisa. As duas alas recebiam as benesses do governo de 64, em todos os níveis,  principalmente no controle dos empregos públicos ( sem concurso)  que chegavam ao município e eram trocados por votos  por intermédio dos deputados  governistas  José Muniz Ramos e  Felipe Coelho.

Luta é ampliada  na “Terra das Carrancas”, dominada pela família Coelho

A oposição, rotulada de “comunista”,  não tinha direito a nada, nem mesmo de votar em suas lideranças para prefeito da capital e governador, além  ter que aceitar a figura odiosa do senador biônico.  Nilo Coelho, por exemplo, foi governador do estado sem receber um voto e sua principal missão foi fortalecer o seu grupo político a partir de Petrolina. Seus irmãos Geraldo, Osvaldo, Augusto e o sobrinho Fernando Bezerra Coelho  ocuparam, ao longo de muitos anos,  os principais cargos eletivos no Estado, de prefeito a senador. Até pouco tempo eles controlavam  a Codevasf.

O núcleo oposicionista na “Terra das Carrancas”  era  bastante aguerrido e contava  com a participação efetiva do padre Pedro Mansueto de Lavor, com origem em Serrita, além dos advogados Valter Lubarino e Geraldo Teixeira Coelho,  o comerciante  Joaquim Florêncio Coelho (Joaquim da Kuka),  o vereador   Rui  Amorim, entre outras lideranças populares  que a partir do início da década de 80  receberam um  providencial reforço com a chegada do advogado Gonzaga Patriota.

Em 1978, Mansueto de Lavor foi eleito  primeiro deputado  estadual pelo MDB do Sertão, sendo sucedido por Gonzaga Patriota, em 1983, enquanto o ex-padre  conquistou uma cadeira na Câmara Federal, para quatro anos depois ascender ao Senado Federal,  na histórica eleição de Miguel Arraes para o governo do Estado, em 1986.

A família  Coelho  conta, hoje,  com um deputado federal e um deputado estadual,  respectivamente,  Fernando Filho e Antonio Coelho.  O ex-prefeito Miguel Coelho, que  concorreu ao Palácio das Princesas em 2022 e ficou em quinto lugar, vai precisar de paciência  e esperar por alguns anos para disputar uma eleição majoritária no município e no estado. Como dizia o ex-governador Joaquim Francisco, ele  vai  “contemplar a Massaranduba do tempo” e permanecer  por um bom tempo na “planície”.