Brasil abre ‘nova fronteira eólica’ no mar. Ibama já tem 36 pedidos

Aerogeradores são embalados pelo vendo na costa da Alemanha no Mar do Norte: parques eólicos no mar são uma modalidade consolidada na Europa há anos Foto: FABIAN BIMMER / Reuters/6-8-2013

Regulamentada no fim de janeiro, a energia eólica com geradores instalados no meio do mar (chamada de offshore) tem potencial de aumentar os investimentos no setor e ampliar a geração de energia sustentável no país.

Considerada a “nova fronteira” da geração de eletricidade, essa tecnologia está em expansão na Europa e na Ásia e começou a dar seus primeiros os no Brasil, com pedidos de autorização para parques eólicos no mar.

Até agora, o Ibama já recebeu 36 pedidos de licenciamento ambiental para a exploração em diversas áreas, nos estados de Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro.

A expectativa é que as primeiras áreas sejam autorizadas neste ano. No total, os pedidos somam 80 gigawatts (GW) de energia, o que dá a dimensão do potencial dessa vertente.

Para comparação, toda a capacidade instalada de geração de energia do país hoje soma 173 GW, de acordo com dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Desse total, 20 GW são de parques eólicos em solo, já conhecidos em todo o país.

O governo prepara agora o primeiro leilão para o uso de áreas no mar com potencial de instalação dos aerogeradores. Empresas interessadas em estudar as regiões terão direito às áreas e, depois, podem obter a outorga dos empreendimentos de geração de energia.

Entenda como é a geração de energia no mar

O secretário adjunto de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia (MME), Marcello Cabral, diz que o governo trabalha para que esse leilão seja realizado no início do próximo ano:

— A nossa previsão é fazer o leilão do uso do espaço no ano que vem, logo no começo. A gente está eliminando aventureiros no processo. Queremos interessados que vão executar o projeto até o final. Isso é um dos pontos fortes que a regulamentação do MME vai trazer.

Pás de até 100 metros

Para especialistas e agentes do setor, o potencial do Brasil é único, mas há desafios pela frente. Segen Estefen, coordenador do laboratório de tecnologia submarina da Coppe/UFRJ, diz que a energia eólica offshore se tornou um “próximo o” conforme o tamanho das turbinas foi aumentando, assim como o potencial de geração.

Em terra, a capacidade máxima de geração das turbinas chega a 5,6 megawatts (MW). Em mar, há projetos que apontam uma capacidade de quase o dobro, de 12 MW, e alguns testes chegam a 15 MW.

Com a potência maior, é preciso aumentar os tamanhos das pás, que atingem hoje envergaduras de até 100 metros, tamanho inviável para transporte em terra.

A alternativa, então, é instalar a turbina em áreas mais amplas e de transporte mais simples, como o oceano. A partir daí, o princípio é o mesmo: as pás giram com o vento e movem um rotor, que então gera a energia.

Outra vantagem da eólica offshore, afirma Estefen, é que os ventos no mar encontram obstáculos menores, pois não há morros e cidades próximas.

Hoje, em geral, os parques no oceano em outros países vão até um limite de 80 metros de profundidade. As torres que sustentam os aerogeradores são instaladas com pilares que vão até o fundo do mar.

Em águas mais profundas, é necessário usar estruturas flutuantes, semelhantes às de plataformas de petróleo, mas a maioria ainda está em fase de testes.

— Estamos assistindo hoje uma movimentação intensa no mundo inteiro para que a descarbonização da geração elétrica em parte se dê pela energia eólica offshore, disse o professor da UFRJ.