52 – DANÇAS BRASILEIRAS – XOTE

Por Ademar Rafael Ferreira (Papa)

Ade Maleu Lapa-el – Encerrando esta série fale-nos sobre o Xote.

Papa – Na letra de “Pau de Arara”, Guio de Moraes e Luiz Gonzaga ordenam de forma inversa “…xote, maracatu e baião…” neste espaço o fizemos na forma direta, isto é, começamos com “Baião”, transitamos por outros tipos de danças até chegarmos no “Maracatu”, depois nova caminhada chegamos ao “Xote”. Muitos estudos disponíveis apontam a origem do Xote como dança europeia e citam a Escócia e a Alemanha como seu berço. Estes detalhes hoje pouco acrescenta na certeza de que é uma das manifestações presentes em nosso cotidiano nordestino. Seu estilo permite que a sedução reine, sua coreografia estimula o cochicho e para este cronista revela muito da capacidade criativa dos nossos letristas, muitos xotes tocam nossos corações e almas.

Do seu ingresso através de colonizadores via estado do Rio Grande do Sul, onde a gaita é sua maior expressão na musicalidade. Entra no Nordeste com a sanfona e virou moda por mérito. Entre seus diversos estilos de os destacamos: o básico lateral, o básico frente e trás, abertura e troca de lugar com giro. A sanfona, o triângulo e o pandeiro são suficientes para traduzir a dança e proporcionar aos dançarinos uma festa inesquecível.

Da vitoriosa parceira de Zé Marcolino e Luiz Gonzaga, transcrevemos a letra de “Numa Casa de Reboco”: “Todo tempo quanto houver pra mim é pouco/ Pra dançar com meu benzinho numa sala de reboco/ Todo tempo quanto houver pra mim é pouco/ Pra dançar com meu benzinho numa sala de reboco – Enquanto o fole tá fungando, tá gemendo/ Vou dançando e vou dizendo meu sofrer pra ela só/ E ninguém nota que eu estou lhe conversando/ E nosso amor vai aumentando/ Pra que coisa mais mió? – Todo tempo quanto houver pra mim é pouco… – Só fico triste quando o dia amanhece/ Ai, meu Deus, se eu pudesse acabar a separação/ Pra nós viver igual a dois sanguessuga/ E nosso amor pede mais fuga do que essa que nos dão – Todo tempo quanto houver pra mim é pouco/ Pra dançar com meu benzinho numa sala de reboco. Todo tempo quanto houver pra mim é pouco/ Pra dançar com meu benzinho numa sala de reboco”.

(*) Oportuno na última crônica de 2022 desejar a todos os leitores um ano novo cheio de realizações.

51 – DANÇAS BRASILEIRAS – XAXADO

Por Ademar Rafael Ferreira (Papa)

Ade Maleu Lapa-el – Fale-nos da dança do Xaxado, a dança dos cangaceiros.

Papa – Sem entrar na polêmica sobre a origem desta dança prefiro tratar o Xaxado como uma dança entranhada na cultura do Moxotó e do Pajeú, para muitos classificada como a dança dos cangaceiros. Se veio de Portugal ou nasceu na cultura dos povos originais aqui é tema secundário.

Originalmente praticada para reduzir o ambiente tenso que viviam os cangaceiros, praticada apenas pelos homens, tendo as armas como uma dama fictícia. O bando de lampião incorporou esse estilo em seu cotidiano e a região de Serra Talhada, hoje reconhecida como a Capital do Xaxado, tem sua prática como presença obrigatória em suas manifestações culturais.

Em sua coreografia básica todos em fila indiana, com os pés rentes ao chão fazendo um barulho ao arrastá-los. O chefe puxa a toada e os demais respondem em coro uníssono. As letras sempre destacam as aventuras do grupo, suas vitórias e desagravos aos inimigos. Os versos extremamente criativos são um dos pontos de relevo nas apresentações. Os sons emitidos pelas batidas das coronhas dos rifles no chão também merecem destaque.

Com a introdução de mulheres nos bandos a dança ganha outras variáveis. Cabe registrar que a indumentária preserva vestes típicas do cangaço. Alguns grupos mantém essa tradição, outros criam imagens distorcidas das origens em ambiente hostil e sem grandes recursos para diversificação.

Transcrevemos a letra de “Xaxado no Pé”, de João Silva e Reinaldo Costa, da obra do Trio Nordestino: “Minha vida é xaxar/ E também canta Baião/ Vivo cantando e xaxando/ Por esse imenso torrão/ O Xaxado é bom e é dança lá do Sertão – Xaxei de Recife a Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Pará, Paraná/ Piauí, Ceará, Rio de Janeiro/ Xaxando conheço o Brasil inteiro – Ai, ai, como é bom Xaxar/ Ai, ai, vamos xaxear – Com chapéu de couro, punha e borná/ Tô sempre xaxando por onde ar/ Enquanto puder, é sanfona na mão/ Triangulo, zabumba e xaxado no pé”.

50 – DANÇAS BRASILEIRAS – VAQUEJADA

Por Ademar Rafael Ferreira (Papa)

Ade Maleu Lapa-el – Fale-nos sobre a vaquejada tradicional do nordeste e praticada em várias parte do Brasil.

Papa – Na Ilha de Marajó, entre suas diferentes manifestações culturais, encontramos a Dança do Vaqueiro que se caracteriza por uma dança que representa os movimentos e gestos dos vaqueiros ao laçar o boi. Com forte pitada da cultura marajoara, nos apresenta um belo espetáculo. Os participantes utilizam jaqueta, chapéu, avental, luvas e botas feitas de couro.

Registramos, no entanto, a nossa vaquejada que mesmo sem ser especificamente uma dança atrai, tal como o carnaval e as festas juninas, muitos tipos de danças. Segundo Câmara Cascudo tem origem nas antigas festas de apartação. Zé Marcolino, nas músicas “Fazenda Cacimba Nova” e “Serrote Agudo” destaca sua importância para nosso caldo cultural. Trata-se de uma festa com múltiplas matizes quanto a sua musicalidade e estilos de danças.

O Quinteto Violado eternizou as músicas “Toada de Gado”, de Vavá Machado e Arlindo Marcolino e “A Morte do Vaqueiro”, de Nelson Barbalho e Luiz Gonzaga, clássicos aqui transcritos: “Oh…Vaqueiro do meu Sertão/ Não despreza o teu gibão/ Nosso destino é marcado pela providência divina/ Assim se achou nas colinas Raimundo Jacó assassinado/ Seu nome serviu de fama/ Luiz Gonzaga gravou e o padre João celebrou uma missa encourado/ Os santos também sentiram/ Enviaram os poetas ouviram e os nordestinos aplaudiram uma toada de gado/ Os santos sentiram tanto, que derramaram seu pranto/ Raimundo Jacó nesse canto por nós é homenageado/ Eh, vida de gado, ôô… – Ê gado..ohhh…ê…/ Numa tarde bem tristonha/ Gado muge sem parar/ Só lembrado do vaqueiro que não vem mais aboiar/ Não vem mais aboiar tão dolente a cantar/ Tengo lengo tengo…/ Ê gado oh… – Bom vaqueiro nordestino/ Morre sem deixar tostão/ O seu nome é esquecido nas quebradas do Sertão/ Nunca mais ouvirão teu cantar meu irmão/ Tengo lengo tengo…/ Ê gado oh… – Sacudido numa cova/ Desprezado do senhor/ Só lembrado o cachorro que ainda chora a sua dor/ É demais, tanta dor não tem mais seu amor/ Tengo, lengo, tengo, lengo, tengo…/ Ê gado ohhh ê ê ê…”.

49 – DANÇAS BRASILEIRAS – VANEIRÃO

Por Ademar Rafael Ferreira (Papa)

Ade Maleu Lapa-el – Fale-nos agora sobre a deslumbrante dança Vaneirão.

Papa – Este estilo tem origem no ritmo cubano denominado “habanera”, também “havaneira” daí ser encontrada como venerão ou vaneirão. Neste texto será escrita com o “i”. Conheci esta dança em 1985 no Centro de Tradições Gaúchas (CTG ), de Maracaju (MS). É parte integrante do folclore gaúcho e muito praticada nos estados de Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul. Existem algumas variação no Vaneirão, a vaneirinha é lenta, a vaneira é moderada e o vaneirão tem ritmo acelerado.

Pela forte influência da cultura alemã em nosso país é muito praticada nos bailes tradicionais do Sul. As mulheres usam vestidos rodados e coloridos e os homens trajam camisas sociais, coletes e bombacha. A gaita é seu principal instrumento musical, acompanhado por outros instrumentos que criam ricas melodias. Boa parte das letras são rimadas com estilos que guardam semelhança com o sextilha da nossa cantoria de viola, contendo mais verso em cada estrofe. O violeiro Zé Viola e o poeta pajeuzeiro Delmiro Barros são bons interpretes de Vaneirão com uso de instrumentos ligados a cultura nordestina.

Da ampla obra de Gaúcho da Fronteira transcrevemos “Tão pedindo um Vaneirão”: “De vez em quando acontece de um conjunto estar tocando/ Num fandango bem bagual, vendo a indiada retocando/ No ouvido do gaiteiro de repente chega um peão/ E cochicha desse jeito: – Tão pedindo um Vaneirão! – Tão pedindo um Vaneirão, tão pedindo um Vaneirão/ O gaiteiro se entusiasma, capricha na animação/ Enfia os dez dedos na gaita do minguinho até o dedão! – O baile segue incendiado de mormaço e polvadeira/ Num bate casco serrado no balanço da Vaneira/ Antes que a marca termina num impulso de emoção/ Vem alguém correndo a grita: – Tão pedindo um Vaneirão! – Se o fandango é dos baita o pessoal fica contente/ As cozinheiras faturam no pastel e cachorro quente/ Não há trago que chegue e em meio a animação/ Nunca falta alguém que grita: – Tão pedindo um Vaneirão! – O entreveiro é completo dentro e fora do salão/ Carros mal estacionados, gente chamando o garçom/ Uns querendo entrar de graça e o porteiro diz que não/ E outros abrindo a matraca: – Tão pedindo um Vaneirão!”.

48 – DANÇAS BRASILEIRAS – TORÉM

Por Ademar Rafael Ferreira (Papa)

Ade Maleu Lapa-el – Fale-nos sobre a dança indígena Torém.

Papa – Esta dança representa um ritual sagrado e por este motivo merece respeito especial, podemos afirmar que é uma mistura que conduz traços de espiritualidade e marcas das brincadeiras saudáveis. Entendida como uma dança que simboliza resistência é executada no período da colheita do caju que serve como base da bebida sagrada “Mocororó”.

Os cantos são oriundos da língua nativa dos povos originais e carregam fortes características dessa origem. Em comunidade próxima do distrito de Almofala, no município cearense de Itarema esta dança é pratica com todo esmero. Habitantes dessa comunidade se destacam também como excelente artesãos Em outras parte do Nordeste existem registros sobre sua prática.

Esta manifestação cultural é praticada por pessoas de ambos os sexos. Em sua coreografia básica os praticantes posicionam-se em formação circular e sob influência do solista imitam animais em suas escaramuças. Os registros encontrados apontam, entre outros, os seguintes: Tainha, com seus saltos; guaxinins, com suas brigas; cobra caiana e seus botes além da jandaia e seu maravilho canto. O maracá tem participação ativa no embalo dos movimentos executados pelos praticantes durante a prática dessa dança.

De arquivo disponível em http://www.digitalmundomiraira.com.br, oriundo da Funarte, extraímos de “Torém”, interpretação de Trio Tremembé, em “Ritmos e sons do nosso folclore” os seguintes fragmentos: “Louvação, pedido de licença – Água de Manim – Navura vai inchê”: “O senhor dono da casa/ Licença, quero pedi/ Que nós queremos dirristi/ Nós queremos dirristi/ Nós queremos dirristi/ E o vevê tem manibóia/ Aninhá vaguretê/ Aninhá vaguretê – Água de manim/ Manima é cerecê/ Água de maninha/ Manima é cerecê/ O jaimevê, o jaimevê/ Água de maninha/ Manima é cerecê, oi/ Água de maninha/ Manima é cerecê – Navura vai inchê/Navura, navura vai inchê/ Navura, navura vai inchê/ Ai di pinima, niverana/ De verana boinguê/ Navura, navura vai inchê/Navura, navura vai inche”.

47 – DANÇAS BRASILEIRAS – TAMBOR DE CRIOULA

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Por Ademar Rafael Ferreira (Papa)

Ade Maleu Lapa-el – Fale-nos sobre a dança Tambor de Crioula.

Papa – Muitas fontes que tratam o assunto asseguram que esta dança tem raízes africanas, para alguns tem largo apelo religioso e chegou ao Brasil no século XVII por meio dos escravos trazidos nos navios negreiros. Desde 2007 é Patrimônio Cultural do Brasil. O estado do Maranhão, por entender a dança como resistência cultural dos negros, concentra a prática em nosso território como forte expressão cultural afro-brasileira. Também conhecida como punga é executada no carnaval, nas festas juninas, em eventos alusivos ao São Benedito ou em festividades restritas para comemorar chegadas ou despedidas.

Houve época que era praticada somente pelas mulheres com suas saias rodadas, anáguas largas e estampas vivas. Com as modificações introduzidas no decorrer do tempo esta tradição foi alterada e a forma restrita foi flexibilizada. A dança é entoada por três tipos de tambores: Pequeno, classificado como crivador ou perrengue; médio, entendido como meio, meião ou chamador e grande, com a classificação de roncador ou rufador. Quem está no centro da roda convida outros participantes por meio de umbigadas ou pungas. No estado do Goiás o tambor é praticado com mais liberdade nas expressões corporais.

Interpretada pela magistral Alcione e da bela obra de Papete, extraímos a letra de “Tambor de Crioula”: “Quem ainda não viu/ Tambor de crioula do maranhão?/ Afinado a fogo tocado a murro/ Dançado a coice e chão?/ Crioula, crioula – Aê tambor da ilha rufou/ Aê ê a cachaça já baixou/ Aê ê tinidô, repipocou/ Aê ê a pungada derribou – Ô vira vira os óio pro rabo da saia dela/ Cambono tá inspirado e ogã cantando prela/ Requebra com peneirado, olerê rosa amarela/ Ô vira a boca cheia de dentes pr´outro lugar/ Palmito meu tu não come/ Besta é tu pode rinchar/ Coreiro de mão inchada olerê já vai parar – Ô dá licença minha gente eu vou m´embora/ Eu vou m´embora já está chegando a hora/ Eu vou m´embora mas um dia eu volto aqui – Se deus quiser jesus e nossa senhora/ Se deus quiser jesus me dê cachaça/ Se deus quiser jesus e dona da casa/ Se deus quiser jesus e cabocla jurema/ Se deus quiser jesus e dona da casa”.

46 – DANÇAS BRASILEIRAS – SIRIRI

Por Ademar Rafael Ferreira (Papa)

Ade Maleu Lapa-el – Fale-nos sobre a dança Siriri, popular no Centro Oeste.

Papa – Esta dança tem presença nas festas tradicionais e nos festejos ligados a eventos religiosos da região Centro Oeste e é praticada também em algumas regiões do estado de São Paulo com adaptações. A prática no estado paulista é justificada pelo fato de que o Mato Grosso integrava a Capitania de São Paulo, a divisão territorial não impediu a influência da dança em toda região.

Em muitos estudos é citada como uma variação da dança Sururu e existe concordância que se origina no universo indígena, com larga aceitação nas zonas rurais e ribeirinhas dos estados onde praticada.

Normalmente as letras das músicas são simples, fáceis de decorar e cantar, na transcrição feita no final deste crônica essa característica pode ser observada. Na sua execução existe variações entre fileiras ou rodas, dançada em pares. As mulheres rodam as saias e batem palmas e batem os pés no chão. Cabe registrar que em função da sua coreografia ser revestida de muita simplicidade são introduzidas variações durante seu desenvolvimento para dar dinâmica e sincronia nos movimentos que em determinados momentos ficam mais rápidos e mais contagiantes em função da alegria manifestada pelos praticantes.

As vestimentas dos dançarinos são calças compridas e camisas coloridas para os homens e saias com estampa alegres para as mulheres que usam também flores no cabelo.

Na região Cuiabá esta dança a praticada com muita intensidade, os movimentos culturais e secretarias ligadas à cultura promovem anualmente festival onde a pratica do Cururu e o Siriri são destacados.

Dimas e seus teclados – “A Dança do Siriri”: “Eu toco siriri/ Eu toco sarará/ Remexe menina/ Requebra menina/ Até o dia clarear – O sereno já caiu/ O siriri tá pra chegar/ Eu toco a noite inteira/ Eu toco a noite inteira/ Até o dia clarear”.

44 – DANÇAS BRASILEIRAS – SERAFINA

Por Ademar Rafael Ferreira (Papa)

Ade Maleu Lapa-el – Fale-nos sobre Serafina, é uma dança raiz ou é uma variável de outra dança?

Papa – Esta dança folclórica do Amazonas, segundo boas e confiáveis publicações, é uma variável das quadrilhas tradicionais com características regionais. É bastante praticada durante as festas juninas da região.

Nas apresentações, como nas quadrilhas tradicionais, existe a figura do marcador. Os pares que formam os grupos seguem os comando deste figurante e em movimentos circulares ou enfileirados apresentam lindas coreografias. Na literatura sobre essa dança encontramos vários nomes destes movimentos, destacamos os seguintes: puçá, lance alto, mala, cacuri, arrodeio baixo e arrastão.

Os dançarinos utilizam calçados e outras indumentárias que carregam simbólicos como remos e arpões. Usam também grandes lenços em volta do pescoço, fitas coloridas presas à cintura e chapéus de palha. Estes adereços harmonizam perfeitamente às coreografias.

Na execução das músicas são utilizados os seguintes instrumentos: cavaquinho, reco-reco, violão e tambor de gambá. Este último é feito artesanalmente com troncos de árvores da região.

Da obra de Verônica Ferriani transcrevemos “Dança a Menina”: “Num minuto o encanto se faz/ Dança a menina/ Dessa vida espera demais/ Roda e se domina/ Brasa em gasolina – Vê na brisa um sopro de paz/ Cola na retina/ Tem da vida o que ela lhe traz/ Profana e divina/ Pende na surdina – Fala manso, fala forte, corre devagar/ Vai na sorte, compra o risco, tanto amor pra dar/ Tá no choro, tá no riso, não pode parar/ Num reverso repentino, volta a perguntar – Só lhe saem coisas banais/ Será, Serafina?/ Perde a pista, aposta em sinais/ A que se destina?/ Onde isso termina? – Tanta coisa aconteceu/ Um beijo, a febre e a sombra do adeus/ Mas, num minuto o encanto se faz/ Dança a menina/ Dessa vida espera demais/ Roda e se domina/ Dá a volta por cima”.

43 – DANÇAS BRASILEIRAS – SARANDI

Por Ademar Rafael Ferreira (Papa)

Ade Maleu Lapa-el – Voltemos para região do pantanal mato-grossense, fale-nos sobre a dança Sarandi.

Papa – A nossa riqueza cultural é ilimitada, muitas vezes encontramos variáveis de uma dança que nasce com características tão fortes que se não examinadas com critério deixamos de ver tais influências. Na dança de roda Sarandi, também conhecida como cirandinha, é uma das mais belas manifestações culturais do Centro-Oeste. Tem traços da ciranda e forte ligação com a temática infantil, tornando-se rota para inserção das crianças no mundo fantástico da dança.

Tem uma coreografia baseada na simplicidade. Em como de letras fáceis e música envolvendo os dançarinos posicionados em formação circular, dançam de mãos dadas girando em torno do próprio eixo, com quatro os para a direita, começando-se com o pé esquerdo, na batida forte do bombo, balançando os ombros de leve no sentido da direção da roda. Cabe destacar os três modelos de os mais conhecidos: onda, sacudidinho e machucadinho.

A seguir a transcrição de “Ciranda Pantaneira”, versão de Chico de Lacerda e Jairo de Lara, composição de Chico de Lacerda, Moacir de Lacerda e Vandir Barreto: “Quem conhece carandá, quem conhece camalote/ Quem conhece tarumã é do pantanal/ Ser pantaneiro é sentir o cheiro da fruta/ Nadar em águas barrentas/ Remar em águas correntes/Ser pantaneiro é a fuga da morte/ É a busca da vida/ Tem cheiro de cama lote, tem gosto de tarumã/ Pantaneiro chegou a hora de você cantar/ Pantaneira chegou a hora de você dançar/ E mostre essa ciranda nascida no Pantanal/ ‘Marrequinha da lagoa, tuiuiú do pantaná/ Marrequinha pega um peixe, tuiuiú já vem pegá’/ Na beira de mil lagoas/ Vou remando minha canoa/ Eu não faço verso à toa, sou molhado pela cheia/ Sou queimado pelo sol, tiquira que vem subindo/ Peixe grande vem atrás/ Na flor desse camalote meu canto não é de morte/ Jenipapo é isca forte, pescador do pantanal/ Sou burro pantaneiro, sou vaca pantaneira/ Na folha que a água leva, leva o bem e leva o mal/ Eu sou burro pantaneiro, sou fruta do pantanal/ Onde nasce carandá não nasce caraguatá/ Onde tem caraguatá tem buraco de tatu/ Onde tem caraguatá cavalo não pode andá”.

41 – DANÇAS BRASILEIRAS – SAPATEADO

Por Ademar Rafael Ferreira (Papa)

Ade Maleu Lapa-el – Sobre o Sapateado, conte-nos sua história.

Papa – Este estilo de dança tem origem na Irlanda, e sua principal característica é o som produzido pelos calçados dos dançarinos. Durante sua expansão pela Europa os tamancos originais foram sendo adaptados, a colocação de moedas nos solados permitiram que os sons emitidos fossem mais nítidos.

Durante a primeira metade do século XIX o ritmo chega à América através dos Estados Unidos. Nesta fase a dança assumiu variáveis impostas pelo jeito americano de dançar. A “Top Dance” introduziu a flexibilidade natural do povo das Américas e a dança assume outros patamares no tocante aos sons e a coreografia. O estilo do irlandês, introduzido pelos colonizadores ingleses, a a ter outra roupagem e a dinâmica assume o lugar da rigidez original.

O intercâmbio natural das culturas nos trouxe o Sapateado. Nas décadas de 1930 e 1940 este ritmo chega ao Brasil. Muitos estudos disponíveis creditam ao ambiente dos cassinos, as exibições nos teatros e ao dançarino Guálter Silva o mérito de introdução da dança em nosso país. O sapateado americano recebe influências brasileiras, ganha espaço nos grandes centros urbanos e recebe traços da nossa cultura criativa, nossas linguagens corporais e nosso molejo.

A coreógrafa Marcela Pires nos brinda como essa ponderação sobre a dança: “…O Sapateado nunca foi singular, independente da época, e o que mais me apaixona nessa modalidade é o quanto ela pode ser atual, democrática, única, inovadora e adaptável ao mundo em que vivemos”.

Extraímos a letra de “Sapateado”, da extensa obra de Ary Barroso numa parceria com Luís Iglesias: “Fui à Nova Iorque só pra ver/ O que foi o Júlio lá fazer/ Houve tanta encrenca, confusão/Acabei…/ Foi na mão – Vem um gajo e me diz/ Alô boy/Chamou de boi eu nem vi/ O que fiz foi muito infeliz/ Meu Deus juntou gente – Lá na tal Broadway me espalhei/ Que sururu nem se viu/ Militar mostrei que o Brasil/Não sabe apanhar – Mudei por mim/Quando ouvi/ Falar o embaixador Marciano/ Em cima do minobrasa”.

40 – DANÇAS BRASILEIRAS – SAIRÉ

Por Ademar Rafael Ferreira (Papa)

Ade Maleu Lapa-el – Sairé é uma dança? Tire-nos essa dúvida.

Papa – Entendo que Sairé, como o carnaval e as festas juninas, é uma manifestação folclórica que engloba várias danças. Encontramos em muitos estudos que o Sairé engloba cantos, danças, rituais religiosos e profanos em uma união que somente o fenômeno da miscigenação pode decifrar. Existiu em várias localidades da região Norte do Brasil, no entanto fixou residência e ganhou forma grandiosa em Alter do Chão, na pérola do Tapajós, a encantadora Santarém (PA). Para este cronista tem a força dos rodeios de Barretos e do frevo em Recife/Olinda.

Por um pouco mais de trinta anos – 1942/1973 – foi proibida a sua execução, em virtudes dos excessos que os censores viam no evento. Na retomada manteve a data de realização em julho. Em 1997 foi transferida de julho para setembro, nesta época foi introduzido ao evento o Festival dos Botos, outra forte corrente das “estórias” da região amazônica. É, de fato e de direito, um espetáculo digno de ser assistido, suas cenas ficam para sempre na memória.

Transcrevemos a letra de “Fogo do Sairé”, composição de Doka Fernandes e Maria Lídia: “Todo julho, todo ano/Há um festival profano na vila de álter-do-chão/Onde tupaiús, turistas, mocorongos, anarquistas/Formam uma só nação Deus Tupã se manifesta/E abençoa a grande festa desse povo em comunhão/Coração é alegria, quero dança e cantoria/Toca, toca espanta-cão.

Com a rima na ponta da língua/Com a dança na ponta do pé/Vou por terra, ar e água/Para o fogo do Sairé – Palavra de ordem, brincar noite e dia/Quem fica parado, estraga a folia/Rapaz que requebra demais quando dança/Atraca de popa, não poupa a poupança – Com a rima… – Quem vai pro escuro caçar gafanhoto/Ou pisa na cobra, ou topa com o boto/Perigo é namoro na beira da praia/Tem caco de vidro, piranha e arraia – Com a rima… – Cigarro que fede a palha queimada/Papai não a e mete a porrada/Cabra cachaceiro, vê se não fulera/Na próxima esquina, a polícia te espera – Com a rima… – Aqui, catraieiro, te dou um trocado/Me leva depressa lá pro outro lado/Ô, dona maria, acabe essa broca/E sirva um peixinho na sua maloca”.

39 – DANÇAS BRASILEIRAS – RETUMBÃO

Por Ademar Rafael Ferreira (Papa)

Ade Maleu Lapa-el – Sobre o Retumbão, diga-nos quais as informações dispomos.

Papa – Esta é mais uma dança típica que integra a rica cultura da região de Bragança no estado do Pará. Poderíamos dizer que assim como a quadrilha faz parte das diversas danças das festas juninas do Nordeste, o retumbão segue essa característica como uma das danças da marujada. Fontes confiáveis indicam que o nome teve origem no fato que os tambores utilizados em sua execução “retumbavam” numa altura que eram ouvidos de longa distância, desta retumbância nascia o nome de manifestação cultural.

Como parte integrante da marujada esta dança leva alguns autores do folclore do Norte a afirmar que o Retumbão é dança favorita dos praticantes da marujada.

Na sua execução percebe-se alguns traços da dança do lundu, no entanto as evolução coreográficas do Retumbão lhe asseguram um identidade própria. Caso tenha essa derivação podemos afirmar que ganha um formato independente e autônomo. Os músicos que atuam nas performances do Retumbão utilizam tambores grandes e pequenos pandeiros, cuíca, rabeca, viola, cavaquinho e violino.

As marujas praticantes dessa linda dança usam as seguintes vestimentas: blusa de mandrião branco, saia azul ou vermelha, faixa da mesma cor da saia a tiracolo e ostentam uma grande cartola adornada com flores confeccionadas com penas brancas para simbolizar a pomba do Divino Espírito Santo. Os marujos usam branco com faixas azuis ou vermelha na cintura e no braço esquerdo e usam chapéu de palha com flor azul ou encarnada na lapela.

Transcrevemos da música “Retumbão do Caeté”, de autoria de Júnior Soares e Ronaldo Silva: “Retumbão lá do campo do meio/Faz tremer chão de areia da praia/Rezador, tocador de rabeca/No sotaque dos caeteuaras – Lá na praia de Ajuruteua/Escutei maresia embalar/Era o vento ensinando às sereias/O segredo das ondas do mar – Baila vento varrendo as areias/Varre vento marujo de maio/Um balaio de flores candeias/Pela praia galope de balaio”.