O centenário de Quincas Rafael
Por Danizete Siqueira de Lima
Retornando das merecidas férias, cedidas gentilmente pelo blogueiro Pedro Araújo, por quem nutrimos uma grande estima, coincidentemente, nos deparamos com o centenário de um grande amigo, pai de outro amigo e colega de longas batalhas, dentro e fora da empresa onde nos aposentamos. Falamos de Ademar Rafael Ferreira, carinhosamente conhecido em nosso meio como o “Papa Sebo das Varas”. Mas não esqueçamos que o centenário é de “QUINCAS” bem como, as merecidas homenagens.
JOAQUIM RAFAEL DE FREITAS, ou simplesmente Quincas Rafael, filho natural de Afogados da Ingazeira, veio ao mundo em 02 de março de 1921 mas, por opção, adotou carinhosamente para residir e criar a sua família, o distrito de Jabitacá – Iguaracy-PE, onde viveu até o dia que o “Pai” lhe chamou para a morada eterna, em 28/11/1999.
Quincas Rafael, se vivo estivesse, teria completado no dia de ontem (02/03), um século de vida. Homem simples que falava a nossa língua, defensor dos mais humildes sobretudo o homem do campo, tinha uma visão completa sobre a nossa política e suas problemáticas sociais, ando pela economia e, principalmente, pelos maus governantes, que viravam as costas para esse povo sofrido aqui do Sertão do Pajeú e por que não dizer: de toda a Região Nordeste.
Dotado de uma sensibilidade ímpar Quincas, como ninguém, conhecia as agruras do homem do campo. Assistia com a alma dolorida o castigo das intempéries provocadas por secas consecutivas onde o gado era salvo pelo mandacaru assado (única pastagem) resistente aos tempos mais difíceis. E ele sofria com a sequidão, por si e pelos seus pares: agricultores humildes que tentavam arrancar da aridez do solo o sustento de suas famílias. Acompanhou várias frentes de emergências, conforme retratadas em seu livro “Afogados deu de tudo” e, sempre que podia, levava até as autoridades o grito de socorro do nosso povo.
Mas, como nem tudo era miséria, Quincas também vibrou muito com a construção da Barragem de Brotas, no governo de Eraldo Gueiros Leite; com a Barragem do Rosário, em Iguaracy – PE; com a chegada da Rede Ferroviária Federal; com o asfalto nos ligando até Cruzeiro do Nordeste e outras benfeitorias públicas. Em suma: criticava o poder público quando preciso e o aplaudia sempre que julgava oportuno, bastava enxergar que os nossos impostos estavam sendo revertidos em obras sociais em favor dos mais carentes. Defensor das grandes causas sociais, combativo até as últimas instâncias, não se omitia em dar o seu “grito de guerra” e “meter o cacete” nos governadores aqui aram e deixaram de honrar os mandatos que lhes foram conferidos.
Com seu jeito simples, tinha sempre uma palavra de conforto, um sorriso nos lábios e uma “lorota” das boas para nos contar: fosse no meio da rua, numa feira livre ou nas rodadas de cantorias e festivais que tivemos a felicidade de estarmos juntos. Um poeta nato, autêntico criador de motes e amigo incondicional dos vates que faziam as noitadas mais alegres, nos famosos pés de parede em finais de semana, com direito a famosa bandeja para pagamento dos cantadores e alguns goles de cerveja que eram partilhados entre os amigos mais próximos.
O mais curioso era o seu jeito eclético de versar sobre qualquer assunto que surgisse. Não se negava em emitir suas opiniões, mesmo que pudesse contrariar alguém. Homem de temperamento forte mas que preservava suas amizades sabendo conviver com as divergências. Além de poeta e autodidata, foi agropecuarista, fiscal de renda e vereador atuante por dois mandatos, no município de Iguaracy – PE.
Como escritor e poeta teve dois filhos: Afogados deu de tudo e Jabitacá, segundo Quincas. O primeiro, publicado em vida, retrata a realidade de um povo sofrido onde são abordados temas como discriminação do pobre: (O POBRE NÃO TEM RAZÃO); RETRATO DA FAZENDA, EMERGÊNCIA ou temas políticos como: PREFEITOS DA MINHA TERRA e NÃO HÁ PODER QUE NÃO CAIA, dentre outros títulos não menos importantes.
O segundo, sob a batuta do maestro e filho Ademar Rafael foi publicado em 2011 (dez anos após a sua morte), com direito a dedicatórias do próprio Ademar e dos poetas pajeuzeiros, Diomedes Mariano e Dedé Monteiro.
O assunto não se esgotará facilmente quando nos referimos a Quincas Rafael mas, em questão de respeito aos leitores e temendo nos tornar prolixos, tentamos abreviar ao máximo nossas considerações ressaltando que ele foi fonte de inspiração para o polivalente Ademar, funcionário aposentado pelo Banco do brasil S.A., graduado em istração de Empresas, onde tem se destacado como consultor de empresas, analista financeiro e instrutor. Nas horas vagas dá uma mãozinha para os seus iradores como cronista e poeta. Atualmente reside em João Pessoa – PB, sendo colaborador de vários blogs da região a exemplo do PE Notícias e Blog do Finfa, ambos de nossa cidade, onde divulga as suas crônicas semanais.
Para fecharmos a nossa matéria com chave de ouro, além de recomendarmos as leituras dos livros citados, selecionamos duas estrofes contidas em uma homenagem prestada ao poeta pela professora Josefa Teixeira de Vasconcelos Torres, da cidade de Iguaracy – PE, por ocasião da sua morte, que retratam muito bem os dotes do homenageado:
Sr. Quincas foi referência / Desta vila tão pacata / A vida lhe foi amiga / A morte lhe foi ingrata / Por ter levado um poeta / Que a todos vai fazer falta.
Poeta de muitos sonhos / E obras de grande valor / De uma grande inteligência / Alegre e de bom humor / Poeta, pai e bom filho / De Deus fiel seguidor.
Respeitando os protocolos em função da Pandemia que nos ronda, provavelmente em setembro próximo, a famosa casa de pedra onde faleceu o poeta, será transformada em Museu numa clara demonstração do carinho daquela comunidade, por QUINCAS RAFAEL, o poeta das Varas, que há 21 anos ou o bastão para o filho ADEMAR, na certeza de que esse bastão estaria muito bem entregue.
(*) Com as férias do colaborador Danizete Siqueira de Lima, estamos reeditando suas crônicas. Essa foi do início de março de 2021 em virtude do centenário de Quincas Rafael.