
VEJA
Era junho de 2022, o governo ainda era o de Jair Bolsonaro e um militar experimentava dias de glória. Número 2 da Secretaria-Geral da Presidência, o general da reserva Mário Fernandes ostentava o status de ministro em exercício e, nessa condição, participou do anúncio de uma nova carteira de identidade ao lado do chefe da Casa Civil, do titular da pasta da Economia e de outros figurões da República. Primeiro a discursar diante de um Palácio do Planalto lotado, fez questão de prestar continência ao então presidente antes de assumir o microfone, quando exaltou o “patriotismo” de quem trabalha “pelo Brasil acima de tudo”, e agradeceu a seu “comandante” pela confiança. Bolsonaro observava e sorria.
Quase três anos depois, o general enfrenta seu pior pesadelo. Preso há cinco meses em um batalhão do Exército, ele é peça central no capítulo mais surreal do que já se descobriu até agora sobre uma suposta trama para subverter a democracia. Mário Fernandes é apontado como o artífice de um plano que considerava, entre outras sandices, até a possibilidade de sequestrar e matar o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes com o objetivo de abrir caminho para manter Bolsonaro no poder. Na última terça, o STF tornou o militar e outras cinco pessoas réus por tentativa de golpe de Estado — todos têm em comum o fato de terem conspirado de alguma forma para tentar mudar o resultado das eleições, segundo a investigação.
No julgamento do chamado segundo núcleo da trama golpista, a Primeira Turma do STF aceitou por unanimidade a denúncia da Procuradoria-Geral da República, chegando até aqui a catorze pessoas formalmente processadas por atentarem contra o estado de direito — ao todo, foram 34 acusados, entre eles o ex-presidente, descrito como o líder máximo da organização criminosa. Em seu voto, o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso e um dos alvos do tal plano de assassinato, rebateu as críticas, levantadas pelas defesas, de que estaria acumulando a função de juiz e vítima. “Aqui não se está analisando nenhuma ameaça específica à pessoa física Alexandre de Moraes, não se está analisando denúncia por tentativa de homicídio. O que está se analisando é uma série de fatos encadeados pela denúncia da PGR contra instituição democrática Poder Judiciário, contra os seus membros enquanto integrantes do Poder Judiciário”, afirmou o relator. As investigações da Polícia Federal revelaram que foram elaborados pelos menos dois planos distintos que tinham o magistrado como personagem principal. Um deles, batizado de Operação Copa 2022, envolveu o monitoramento do ministro. O outro, que ganhou o codinome de Punhal Verde Amarelo, previa até a eliminação de Moraes. Um teria relação direta com o outro.
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