Por Ademar Rafael Ferreira (Papa)
Ade Maleu Lapa-el – Para encerrar essa série fale-nos sobre Zezé Lulu.
Papa – José Gomes do Amaral – Zezé Lulu, nasceu no dia 04.12.1916 no Sítio Serrinha – São José do Egito (PE), integrante da geração dos cantadores raiz, isto é, poetas que faziam da profissão um sacerdócio e que em suas estrofes a sensibilidade saltava aos olhos. Tive a felicidade de ouvir esse poeta, tenho por ele uma iração extrema.
As três primeiras estrofes abaixo transcritas foram extraídas do livro “São José do Egito – Musa do Pajeú”, de Terezinha Costa e as demais do livro “Roteiro de velhos cantadores e poetas populares do Sertão”, de Luís Wilson. Desejamos um Feliz Ano Novo a todos os nossos leitores.
Eu iro a aranha
Pela casa que constrói
Cavar no chão um buraco
Pra que aquele lhe apoie
Botar-lhe mais um tampa
Que nem a chuva destrói.
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Em cima do pé uva
O canário e vem-vem
E a rolinha saudosa
Pousa pra cantar também
E o concriz canta olhando
As cores que a pena tem.
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A minha casa é roseira
Com as folhas orvalhadas
Oito rosas perfumadas
Perfumando a vida inteira
Por mim e minha caseira
A roseira é protegida
A quinta e nossa guarida
Nós somos os zeladores
OS MEUS FILHOS SÃO AS FLORES
DO JARDIM DA MINHA VIDA.
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O que mais me desanima
É fazer comparação
Do boi que recebe a canga
Para primeira instrução.
Se corre apanha na venta
Se para leva ferrão.
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Quando eu soube da notícia
Que morreu tua filhinha
ei o dia na feira
Mas alegria não tinha
Com muita pena da tua
Com mais cuidado da minha.
***
Já está chegando a hora
Da minha linda “galega”
Sair lá pelo terreiro
Dando ração a borrega
E perguntando: “Mamãe
quando é que papai chega”.