Com R$ 39 milhões, União Brasil lidera verbas para campanhas a vereador em São Paulo

A pastora Sandra Alves, o presidente de escola de samba Silvão Leite e Silvinho, candidatos do União com maior verba de campanha

O Globo

O União Brasil, partido que não tem candidato a prefeito em São Paulo, é a sigla que mais aportou verba em campanhas para vereador até agora na cidade. Com R$ 39 milhões empenhados na disputa do legislativo municipal, o partido faz uma investida para tentar aumentar a bancada atual, mas não contará com seu principal puxador de votos, Milton Leite, atual presidente da câmara que desistiu de tentar novo mandato.

O União direcionou para a disputa de cadeiras de vereador quase o dobro da média verificada entre os principais rivais: R$ 23 milhões do MDB, R$ 22 milhões do PT e R$ 22 milhões do PL. A verba somada de campanhas a vereança pelo partido quase alcança o valor que o MDB aportou até agora para tentar reeleger o prefeito Ricardo Nunes, de R$ 44 milhões.

Sem a força política do presidente da câmara, o União aposta em outros nomes. Dois deles são os herdeiros políticos de Milton Leite: Silvio Ricardo dos Santos e Silvio de Azevedo.

Concorrendo com os nomes de urna “Silvinho” e “Silvão Leite” (o segundo fazendo uso artificial do sobrenome do padrinho político), os dois receberam R$ 3,7 milhões cada um para suas campanhas. São as principais apostas da legenda como puxadores de votos, junto com a pastora evangélica Sandra Alves, que recebeu R$ 4 milhões.

Essa é a primeira eleição municipal que o União disputa desde que a sigla se formou a partir da fusão entre o PSL e o DEM, partidos que o originaram. Em 2020, o DEM elegeu cinco vereadores e o PSL, um, mas hoje a nova sigla tem uma bancada de sete. Durante a janela de trocas partidárias, a nova legenda perdeu uma cadeira e ganhou duas.

Na última eleição, Milton Leite foi o segundo candidato mais votado da cidade, com 132 mil votos, atrás apenas de Eduardo Suplicy (PT), escolhido por 167 mil eleitores. O vice líder dentro do DEM foi o radialista Eli Corrêa, já bem atrás de Leite, com 32 mil votos.

Nesta eleição os três candidatos que mais receberam verbas do partido (Silvão, Silvinho e Pastora Sandra) são nomes novos para o eleitor. Silvão é presidente da escola de Samba Estrela do 3º Milênio, no Grajaú, e Silvinho foi funcionário na subprefeitura do M’Boi Mirim. Ambos os bairros são redutos eleitorais de Milton Leite.

A pastora Sandra Alves tem uma origem política diferente. Ela foi a primeira vereadora negra a ser eleita em Boituva, na região de Sorocaba, onde fica sua igreja, o Templo Profético do Renovo. Ela mudou o domicílio eleitoral para concorrer ao cargo agora em São Paulo.

Os vereadores do União que disputam reeleição na capital receberam um quinhão melhor das verbas de fundo eleitoral do partido, mas conseguiram levantar verbas por conta própria. O vereador Rubinho Nunes conseguiu R$ 1,23 milhão em doações para tentar se reeleger, e é o candidato a vereador que mais levantou dinheiro de pessoas físicas em São Paulo.

O candidato com mais verbas do fundo eleitoral, Rodrigo Goulart, não é do União, mas sim do PSD, partido do ex-prefeito Gilberto Kassab. Os dois partidos, legendas de centrão posicionadas mais à direita, têm muitas semelhanças: Goulart é também um aliado de Leite, porém e ganhou do atual presidente da câmara a indicação para relator das revisões do Plano Diretor e da Lei de Zoneamento de São Paulo, projetos cruciais em São Paulo.

Apostas da esquerda

No campo da esquerda, há uma sinalização de mudança de nomes e dificuldades à frente também na disputa por cadeiras na câmara municipal. A exemplo do que ocorreu com o União, o PT também não terá seu principal puxador de votos, porque Suplicy se elegeu deputado estadual há dois anos e continuará no mandato.

O nome do partido com mais verba é Luna Zarattini, que conseguiu votos apenas para se eleger suplente na última eleição, mas ganhou alguma visibilidade depois de assumir o cargo como vereadora e assumir a presidência da comissão de direitos humanos da câmara. O partido destinou R$ 1,7 milhão para sua campanha agora, e ela conseguiu mais R$ 132 mil por doações.

Luna, que tem sua base eleitoral no bairro do Rio Pequeno, pertence a uma dinastia de políticos na capital iniciada com o deputado federal Ricardo Zarattini (1935-2017), seu avô, figura histórica do PT que entrou na política na década de 1980 como sindicalista. Seu tio Carlos Zarattini é deputado federal.

O nome do PT que mais recebeu verba do diretório para a campanha é Ivone Silva, ex-presidente do Sindicato dos Bancários e hoje chefe do Instituto Lula, nome de confiança do presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. A ex-sindicalista teve receita de R$ 1,74 milhão para a campanha.

Os outros dois partidos mais fortes de esquerda na capital, PSB e PSol, destinaram cada um cerca de R$ 7,5 milhões para campanhas de vereador, e terão de brigar por votos em campanhas mais “orgânicas”, com militância de rua e nas redes sociais.

A Rede Sustentabilidade possui apenas R$ 2 milhões e aposta suas fichas principalmente em Marina Bragante, ex-secretária estadual de Desenvolvimento Econômico do estado, que conseguiu levantar mais de R$ 500 mil em doações, apoiada pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.

Declínio do PSDB

Além das trocas de nomes nas grandes legendas de São Paulo, um outro fator deve ter uma influência grande na campanha a vereador na cidade: o derretimento do PSDB.

Todos os 8 vereadores tucanos empossados após a última eleição mudaram de partido, e o Cidadania, legenda com quem o PSDB compõe federação, também perdeu seu único parlamentar na cidade

A campanha dos tucanos para vereador soma apenas R$ 735 mil, e quase todo o dinheiro que o partido destinou ao município (R$ 4,4 milhões) foi empregado na campanha a prefeito do apresentador José Luiz Datena, que está em quinto lugar nas pesquisas.