O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou, nessa quinta-feira (02), a Medida Provisória que oficializa o retorno do Bolsa Família, famoso programa social lançado por ele mesmo no ado e que marcou a imagem de governos petistas. O projeto, relançado nesta quinta em evento em Brasília, que pagará R$ 600 por família e R$ 150 adicionais para cada criança de até 6 anos, ocupará o espaço do antigo Auxílio Brasil de Jair Bolsonaro (PL), sancionado em dezembro de 2021. O relançamento da ação, agora em 2023, é uma pá de cal sobre as pretensões bolsonaristas de deixar um forte legado na área social, aproveitando-se da repaginação de programas lançados em istrações anteriores.
Em 14 de fevereiro deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), já tinha recriado outro importante marco de suas gestões: o Minha Casa, Minha Vida. O programa de habitação destinado ao subsídio para aquisição de moradias por famílias de baixa renda foi relançado em Santo Amaro, na Bahia, onde também foi assinada uma MP.
Voltando-se ao caso de Bolsonaro, após chamar programas sociais de “bolsa farelo” e “voto de cabresto”, ele tentou seguir um caminho parecido ao dos antecessores e criar um projeto para chamar de seu. No caso dos Programas de Transferência de Renda Condicionadas, como o Bolsa Família, o ex-chefe do Executivo usou uma roupagem semelhante à iniciativa de Lula, com mudanças pontuais nos critérios de participação. Até mesmo o projeto de habitação “Minha Casa, Minha Vida” ou a ser chamado de “Casa Verde e Amarela”, mesmo que, na prática, a mudança de nome não refletisse em uma nova medida.
Tentativa de apropriação
Especialistas atribuem as atualizações implementadas por Jair Bolsonaro a uma tentativa de se apropriar de uma herança social dos governos petistas e, assim, angariar apoio de novos eleitores. Mesmo assim, diante da vitória de Lula nas urnas em 2022, eles reforçam que a renovação de nomes, cores e slogans não foi suficiente para alterar a lembrança dos cidadãos e, assim, está fadada ao esquecimento rápido.
“A trajetória de um presidente é fundamental para construir o legado que ele vai deixar. Não basta uma medida aqui e ali. Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, sempre será conhecido pelo Plano Real. Poucas pessoas atrelam políticas sociais ao seu mandato. Foi Lula, com a sua plataforma de governo, que trouxe a pauta social para o centro do mandato e acabou conhecido pelas políticas de assistência”, explica Marcelo Vitorino, consultor de marketing político.
Vitorino avalia que, mesmo tentando ressignificar os programas sociais da oposição, Bolsonaro não será lembrado pelas propostas porque outras posições do ex-presidente chamaram mais atenção ao longo do governo. Dessa forma, ele opina que os nomes “Casa Verde e Amarela” e “Auxílio Brasil” logo devem cair no esquecimento do eleitor e não terão a mesma força de argumento em futuras candidaturas que o assunto tem para campanhas petistas.
Buscas na web
Em uma pesquisa de comparação entre a busca pelos termos “Minha Casa, Minha Vida” e “Casa Verde e Amarela” na ferramenta Google Trends, por exemplo, é possível ver que, entre 2021 e 2023, o nome dado por Lula liderou as procuras em todos os estados brasileiros. A menor porcentagem de diferença de busca entre os dois aconteceu em São Paulo, que registrou 60% das pesquisas na internet para o programa petista e 40% para a iniciativa bolsonarista. No Amapá está a maior diferença observada, de 84% para 16%.
“Bolsonaro até tentou embarcar no sucesso dos programas sociais, mas não conseguiu. As políticas de assistência não estavam presentes nas suas propostas eleitorais, não eram pautas que faziam parte do seu dia a dia. Se não há coesão entre publicidade e ação, o cidadão percebe a diferença”, destaca Marcelo.
Do ponto de vista da publicidade, o consultor em marketing eleitoral Victor Trujillo avalia que a estratégia implementada por Bolsonaro não tinha perspectiva de sucesso em momento algum, uma vez que tentava se apropriar de um tema inaugurado pelo adversário.
“O que ele deveria ter feito, se quisesse algum sucesso com isso, seria criar o próprio programa social”, avalia Trujillo. “Mesmo com uma roupagem nova, os programas de Bolsonaro não poderiam substituir os anos construídos pelo governo petista. Existe uma memória afetiva da população com os nomes criados por Lula que dificilmente seria apropriada por um outro candidato, até pela vanguarda que eles representaram”.