Crise do INSS: ministros têm reunião tensa, com cobranças por vazamentos e bronca em novo presidente do instituto

O Palácio do Planalto

O Globo

Ministros do governo de Luiz Inácio Lula da Silva tiveram uma reunião tensa nesta quarta-feira, no Palácio do Planalto. O encontro foi marcado por cobranças feitas pela secretária-executiva da Casa Civil, Miriam Belchior, e broncas a respeito de posicionamentos públicos de alguns dos presentes. Na conversa, decidiram que o governo vai abrir um sistema para que aposentados e pensionistas lesados por descontos indevidos possam relatar fraudes. A medidas será anunciada em entrevista a jornalistas nesta quinta-feira.

O encontro teve a presença dos ministros Sidônio Palmeira (Comunicação Social), Wolney Queiroz (Previdência) e Vinicius de Carvalho (Controladoria Geral da União), da secretária-executiva da Casa Civil, Miriam Belchior, do presidente do INSS, Gilberto Waller Júnior. Em viagem à Rússia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não participou.

Belchior indagou de forma dura os colegas sobre as notícias de que o governo usará dinheiro do Orçamento para ressarcir os aposentados lesados. Segundo relatos dos presentes, a número 2 da Casa Civil fez questionamentos sobre quem teria vazado essa informação, gerando constrangimentos.

Também deu bronca em Waller Júnior por causa de seus posicionamentos públicos. A ideia do Planalto é usar dinheiro do Tesouro para ressarcimentos somente em último caso, apesar de a forma exata de como fazer isso ainda não ter sido encontrada.

A secretária-executiva da Casa Civil ainda relatou aos colegas ter dado uma chamada no secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, por ter defendido em entrevista à CNN, na segunda-feira, que os recursos com potencial de serem remanejadas para fazer o ressarcimento devem ser do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e das emendas parlamentares.

Em determinado momento, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, que não estava presente inicialmente, pediu que Vinicius de Carvalho deixasse a reunião, que acontecia na sala de Sidônio, no segundo andar, e subisse para o seu gabinete no quarto andar. A interrupção irritou os demais participantes.

A reunião durou três horas. Rui Costa participou da parte final. Em uma das suas intervenções, disse que o escândalo deixava todos em situação difícil, com exceção do presidente do INSS, que foi nomeado na semana ada e não trabalhava na autarquia no momento em que os descontos indevidos aconteceram, e do ministro da CGU, cuja pasta foi responsável por revelar as fraudes.

O ministro da Casa Civil não incluiu no grupo Wolney Queiroz, que foi nomeado para a Previdência na semana ada, mas antes era o número 2 da pasta.

Mais tarde, Rui Costa, disse que a CGU falhou ao não fazer os alertas devidos “a nível de ministro” assim que as primeiras apurações apareceram e que o governo perdeu uma chance de enfrentar as fraudes do INSS mais cedo e evitar que a atual crise se abatesse sobre a gestão de Lula.

Durante a reunião, foi acertado que na entrevista coletiva do fim da manhã será anunciado que os aposentados lesados poderão se registrar em um sistema para relatar os descontos indevidos de suas aposentadorias. O cadastro, nas plataformas do INSS, deve ser aberto provavelmente na semana que vem e ficará aberto indefinidamente.

A partir desses registros, o governo pretende ter um número mais preciso de vítimas e o valor total desviado. No seu registro, a sua suposta vítima será questionada se autorizou ou não o desconto. Com essas informações, o governo pretende questionar as associações que receberam os rees e cobrá-las para que façam a devolução dos recursos.