Economia Criativa: arte, cultura e inovação potencializam mercado no Recife

Conhecido pela efervescência cultural, o Recife vem transformando sua vocação artística em motor de desenvolvimento econômico. A arte, a inovação e as manifestações culturais, muito além de expressar identidades, têm movimentado a economia local e gerado novas oportunidades. Esses são alguns dos elementos que compõem a base da economia criativa, modelo que, segundo o Observatório Nacional da Indústria (ONI), deve gerar mais de 1 milhão de empregos até 2030.

Grosso modo, a economia criativa diz respeito a um setor econômico que lança mão da criatividade, do conhecimento e da inovação como bases para gerar valor e riqueza, englobando das artes à tecnologia. Diferentemente dos meios tradicionais, a economia criativa valoriza muito além do volume de produção, com a riqueza cultural se sobrepondo à lógica puramente industrial e repetitiva.

Sendo assim, para o Recife não é um desafio se destacar em um modelo que se baseia em aspectos culturais e criativos, já que a cidade apresenta um ambiente urbano estimulante para comércio e serviços que se enquadram no modelo criativo, gerador de renda por meio do emprego e empreendedorismo.

De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), a capital pernambucana figura entre as 246 cidades mais criativas do mundo. Para o secretário de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura do Recife, Carlos Andrade Lima, o bairro apresenta características únicas que favorecem os arranjos produtivos da economia criativa.

“Temos uma concentração de comércio com perfis que atendem a vários tipos de demandas, espaços de convivência, museus, galerias, bares, restaurantes, livrarias. Esses detalhes criam um ambiente propício para iniciativas culturais que reforçam a diversidade que o Recife tem”, pontuou o secretário.

Lima acrescentou que Recife possui capital humano qualificado, com talentos provenientes de universidades e do mercado local, fatores fundamentais para o desenvolvimento da indústria criativa.

Do comércio criativo, que conecta identidade cultural e artesanato, à inovação tecnológica do Porto Digital, que em 2024 registrou um faturamento de R$ 6,2 bilhões, as projeções para o futuro criativo no crescimento econômico parecem promissoras.

Nesse ritmo inovador, o varejo ganha novos contornos por meio de feiras e espaços colaborativos, que transformam as ruas em vitrines da produção local. Esses movimentos não apenas animam os espaços públicos, mas fortalecem redes entre pequenos empreendedores, promovendo conexões e visibilidade.

Para o idealizador da Na Laje Collab — loja colaborativa e projeto de fomento a pequenos empreendedores por meio da “Feira Na Laje”, na Zona Norte —, André Leite, essa é uma das coisas que diferem a economia criativa da maneira tradicional de vender. “Na minha visão, a principal conexão são as pessoas que fazem esta economia girar, no caso os expositores, os músicos, artistas, DJs. Quem realmente faz acontecer são eles. Nós somos o veículo e o instrumento que une essas pessoas ao público final”.

Leite explica que, na maioria das vezes, o negócio vai muito além de um simples empreendimento. É a identidade do artista que se expressa por meio do trabalho, aliado à busca pelo lucro. De acordo com o analista do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Pernambuco (Sebrae-PE), Duda Maciel, o valor de pertencimento dado ao produto ou serviço constrói uma narrativa que leva o consumidor a também se sentir membro, mesmo que temporário, do universo do seu território de produção.

O especialista explicou que a economia criativa envolve uma gama de áreas: artesanato, design, audiovisual, música, moda, games, gastronomia e turismo. Duda Maciel ainda destacou que áreas como desenvolvimento de softwares, jogos eletrônicos, produção de conteúdo digital, design, moda e audiovisual se consolidam como as principais apostas dentro desse ecossistema.

Esses segmentos, diz o analista do Sebrae-PE, vêm se destacando pelo alto potencial de crescimento e inovação, além de abrirem múltiplas oportunidades para novos empreendedores. Com base nisso, o que vem como consequência da nova forma de movimentar a economia é a valorização da manualidade e exclusividade nos processos, além dos traços representativos e culturais envolvidos nos negócios.

A combinação de fatores como esses e a necessidade de transformar a produção artística em fonte de renda fizeram com que a artesã Altaysa Nishaelem desse início ao Aniggastyle, ateliê comercializa peças autorais assinadas pela jovem.

Entre argolas, colares e nose cuff (adornos de nariz), a artista incorpora elementos da própria cultura, transformando identidade em sustento. “Comecei a empreender com a expectativa de investir nos meus estudos e realizar o sonho de ser antropóloga. Após várias respostas negativas em estágios, criei uma forma de me movimentar economicamente a partir desse encanto por moda sociocultural e história”, contou.

A empreendedora acrescentou que o motivo pelo qual escolheu órios para iniciar um negócio foi a ligação que mantém com moda política e produção de cultura. Altaysa reconhece a proximidade e representação do empreendimento dela como um mecanismo de conexão com os clientes. “Eu me enxergo como alguém que a para os clientes o que recebi. Identifiquei e cultivo da história das nossas ancestrais. O amor por abrilhantar seu próprio corpo para vivenciar cultura e se sentir viva”, justificou.

“O Recife respira cultura, e economia criativa permite manutenção de vida aos jovens que estão por trás da produção cultural e alternativa da cidade, permite sonhos e crescimento contínuo”, acrescentou a empreendedora.

Altaysa enxerga o papel da economia criativa no fortalecimento do comércio alternativo e cultural da cidade.  “Respiramos cultura, e a economia criativa permite manutenção de vida aos jovens que estão por trás da produção cultural e alternativa da cidade, permite sonhos e crescimento contínuo”, afirmou.

Pela forte conexão da atividade produtiva com as ideias e valores de quem quer empreender,  Duda Maciel, do Sebrae-PE, aconselha que, mais importante do que seguir tendências, é identificar afinidade e habilidade com determinada área. “Não adianta propor algo em moda autoral para alguém que não tem a aptidão ou a técnica necessária para garantir uma produção de qualidade”, esclareceu.

Para Duda, independentemente do segmento, inovação e tecnologia são indispensáveis, assim como uma boa gestão, qualificação e estratégias de o ao mercado.

De acordo com o especialista, esses fatores estão alinhados ao público-alvo, e as chances de sucesso aumentam significativamente. Para quem já atua ou deseja ingressar nesse universo, o Sebrae-PE oferece e com capacitações, consultorias e o a feiras e rodadas de negócios em todo o Brasil — e até no exterior. O cadastro pode ser feito diretamente pelo site da instituição.