Embaixadas e até empresas da Lava Jato: como Brasil tenta recuperar ‘tempo perdido’ na África

BBC Brasil

No salão de conferências do luxuoso Hotel Intercontinental, em Luanda, capital de Angola, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursava para uma plateia repleta de políticos, empresários e diplomatas na noite da última sexta-feira (25). Depois de repetir o slogan “O Brasil voltou” em diversos países, foi a vez de fazer algo parecido no continente africano.

“A volta do Brasil ao continente africano não deveria ser uma volta porque nós nunca deveríamos ter saído do continente africano”, disse Lula.

A ida do presidente a Angola é interpretada dentro e fora do governo como a face mais visível do esforço da atual istração para “recuperar o prejuízo” dos últimos anos e aumentar as exportações brasileiras para o continente africano que estão no mesmo nível desde 2011.

Além de Lula, esse movimento conta com o plano de abrir ou reabrir embaixadas no continente e por comitivas de empresas prospectando novos negócios na África.

Entre elas, gigantes investigadas em casos de corrupção pela Operação Lava Jato.

Tempo ‘perdido’

“O Brasil está correndo atrás do espaço que perdeu nos últimos 10 anos”, diz o professor de política e história africana do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC Rio), Alexandre dos Santos.

Segundo ele, a crise política que afetou o Brasil desde 2013, o escândalo da Lava Jato, que implicou empreiteiras que mantinham negócios com países africanos, e a política internacional do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) fizeram com que o Brasil asse por um momento de retração nas suas relações com o continente.

“Isso aconteceu, mais especificamente, nas duas istrações adas. Tanto Michel Temer quanto Jair Bolsonaro relegaram o continente a uma área do planeta sem importância”, afirma o professor.

Durante o mandato de Bolsonaro, por exemplo, o governo fechou duas embaixadas no continente africano sob o argumento de redução de gastos.

No vácuo supostamente deixado pelo Brasil, a China, principalmente, ou a ocupar o espaço em países como Angola e Moçambique.

Outro país que também ou a ocupar espaços na região foi a Índia, especialmente na porção leste do continente.

Dados da Agência Brasileira de Promoção à Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) mostram que, em 2003, o Brasil era o 16º principal exportador para a África enquanto a China ocupava a 7ª posição.

Em 2022, a China tinha subido seis posições e se tornou o maior exportador para a África. O Brasil, no entanto, subiu apenas uma posição. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) reforçam esse movimento.

Em 2022, o Brasil exportou US$ 12,8 bilhões (cerca de R$ 62 bilhões) ao continente africano. O valor corresponde a um aumento de 35% em relação a 2021, mas, quando comparado ao que o país exportava em 2011 (US$ 12,2 bilhões), por exemplo, o montante praticamente não cresceu.