Enem dos Concursos pode gerar evasão em órgãos públicos, diz pesquisa

Esplanada dos ministerios feriados Concurso Nacional Unificado

Metrópoles

Uma pesquisa feita com servidores do Ministério da Cultura (MinC) mostrou que o Concurso Público Nacional Unificado (NU), conhecido como Enem dos Concursos, pode provocar evasão em carreiras do Executivo federal que reivindicam reestruturação. A informação, porém, é refutada pelo governo federal.

A pesquisa contou com 589 participantes, o que representa cerca de 30% dos servidores ativos do MinC e entidades vinculadas, e perguntou sobre intenções e motivos da categoria em realizar concurso para uma outra carreira.

O levantamento foi realizado pelo Departamento de Educação e Cultura (DEC) da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef).

Quase 70% dos participantes revelaram estudar para outros concursos. Desses, mais de 75% vão participar do Enem dos Concursos. Apesar disso, mais de 90% dos servidores responderam que, se o governo acatasse as demandas da Cultura, permaneceriam nos quadros do MinC e entidades vinculadas.

Os responsáveis pela pesquisa pontuam que, em muitos casos, a evasão no Executivo Federal acontece exclusivamente pela falta de valorização das carreiras.

“No Concurso Nacional Unificado o governo oferece 50 novas vagas para o Ministério da Cultura, mas há uma possibilidade real dessa quantidade de novos servidores, extremamente necessária, ser insuficiente e, inclusive, menor do que a de servidores que podem deixar o ministério caso em em outros concursos. Esse, certamente, não é um caso isolado da Cultura”, diz nota da confederação dos funcionários públicos.

Para o departamento que aplicou a pesquisa, o resultado é importante por apontar ao governo que há um risco real não só de perder mão de obra especializada, mas também servidores que detêm conhecimento estratégico sobre áreas-chave da Cultura. “Não temos intenção de expor, muito menos recriminar colegas que buscam algo simples: dignidade”, prossegue a entidade.

O que diz o Ministério da Gestão

Responsável pela organização do Concurso Unificado, o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) foi provocado sobre a pesquisa pelo Metrópoles e, em nota, disse que a recomposição e revalorização da força de trabalho na istração Pública Federal são “pautas prioritárias” da pasta. O ministério ainda salientou que procura recuperar a capacidade de atuação do governo na execução de políticas públicas.

“O MGI vem atuando atender essas duas frentes, dentro dos limites orçamentários, sempre em diálogo com as demandas dos órgãos e entidades de servidores do Executivo Federal”, afirmou o ministério.

Nos bastidores, há quem avalie que a conclusão da pesquisa da Condsef, isto é, a possível evasão de servidores em razão do certame, não pode ser feita, pois o concurso ainda não foi realizado e ninguém, portanto, foi aprovado para outras vagas. O prazo para inscrições terminou na última sexta-feira (09).

As provas do Concurso Nacional Unificado serão aplicadas em 5 de maio deste ano.

O governo Lula (PT) decidiu não conceder reajuste salarial para servidores do Executivo federal em 2024, mas se comprometeu com um reajuste de 9% nos próximos dois anos, a ser pago em duas parcelas de 4,5%: a primeira em maio de 2025 e a segunda em maio de 2026.

Em 2023, foi concedido um reajuste de 9%, mas o impacto cheio só está entrando no exercício financeiro de 2024, visto que o pagamento começou em maio do ano ado.

Para este ano, o governo propôs aumento nos valores dos auxílios, com vigência a partir de maio. O auxílio-alimentação será elevado de R$ 658 para R$ 1.000; o per capita referente ao auxílio-saúde ará do valor médio de R$ 144 para R$ 215; e o auxílio-creche irá de R$ 321 para R$ 484,90. Isso representa 51,06% de reajuste nos auxílios, já contemplado no Orçamento de 2024.

Apesar de oficialmente não haver perspectiva de reajuste em 2024, a ministra da Gestão, Esther Dweck, tem falado em uma brecha para a concessão da recomposição. Segundo ela, se houver alta na arrecadação federal, o novo Marco Fiscal (a regra de controle dos gastos públicos) permite a ampliação das despesas e parte desses recursos pode bancar um reajuste para o funcionalismo.