O Globo
Os Estados Unidos anunciaram a intenção de trabalhar com o Congresso americano — cuja Câmara é dominada pela oposição republicana — para fornecer recursos para programas para a Amazônia brasileira, incluindo “apoio inicial ao Fundo Amazônia”. A declaração foi feita em comunicado conjunto após encontro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o presidente Joe Biden na Casa Branca, nesta sexta-feira. Apesar do tom favorável, o comunicado não citou cifras. Mas fontes confirmaram a informação inicialmente dada pela BBC Brasil de os EUA pretendem fazer um aporte inicial de US$ 50 milhões.
“Os Estados Unidos anunciaram sua intenção de trabalhar com o Congresso para fornecer recursos para programas de proteção e conservação da Amazônia brasileira, incluindo apoio inicial ao Fundo Amazônia, e para alavancar investimentos nessa região muito importante”, diz trecho do documento divulgado na noite desta sexta-feira pelo Itamaraty.
Antes do encontro na Casa Branca, havia expectativa de que os EUA anunciassem a entrada no fundo, a principal iniciativa de arrecadação de recursos para conservação e combate ao desmatamento na floresta. Cogitou-se mencionar os US$ 50 milhões no documento, porém, o valor é considerado baixo pelo governo brasileiro. Há uma expectativa de que, em viagem ao Brasil, o enviado especial para o clima, John Kerry, apresente uma cifra maior.
Fontes do governo, porém, reconhecem a dificuldade de o governo americano conseguir aprovar valores num momento em que a Câmara é controlada por republicanos, já que qualquer aval depende de um acordo bipartidário.
Criado em 2008, o Fundo Amazônia recebeu, em 10 anos de operação, R$ 3,3 bilhões em doações, o que cessou em 2019 por causa de problemas na gestão de Jair Bolsonaro. Enquanto funcionou, o fundo recebeu aporte de dois governos estrangeiros: Noruega e Alemanha. Além disso, houve doações menores da Petrobras e foram financiados 102 projetos, a um custo de R$1,8 bilhão. De acordo com o BNDES, que gerencia a aprovação e contratação de projetos, existia R$3,6 bilhões ainda em caixa até dezembro ado.
Durante visita do chanceler alemão, Olaf Scholz, a Brasília no fim de janeiro, o governo da Alemanha anunciou destinará 203 milhões de euros para ações na Amazônia, sendo 35 milhões direto para o fundo. Já o ministro do Clima e Meio Ambiente da Noruega, Espen Barth Eidea, anunciou na COP27 em Sharm el-Sheikh, no Egito, a cooperação com o Brasil para a reestruturação imediata do fundo. Anúncio foi feito em novembro do ano ado, dois meses antes da posse de Lula.
O documento foi divulgado após mais de duas horas de visita de Lula e sua comitiva à Casa Branca, no primeiro encontro entre os dois mandatários desde que o petista assumiu o cargo, em janeiro.
Pouco antes de o comunicado ter sido divulgado, Lula havia sinalizado que os EUA declarariam apoio ao Fundo. Mas, em conversa com a imprensa na saída da Casa Branca, fez afirmações contraditórias. Primeiro, disse não ter discutido o Fundo com Biden, depois, que poderia dizer que os americanos participariam da iniciativa.