Falta de autonomia foi o que provocou saída de secretário de Infraestrutura e Mobilidade de Pernambuco

A saída precoce do secretário Evandro Avelar sinaliza que algo não está bem. E, num setor como mobilidade urbana e infraestrutura, é ainda mais preocupante diante dos desafios a serem enfrentados

Por Roberta Soares/JC

Em primeiro lugar, é importante afirmar que a saída precoce do secretário de Infraestrutura e Mobilidade de Pernambuco, Evandro Avelar, foi uma perda tanto para a infraestrutura como para a mobilidade no Estado – nesse caso, o transporte público, tanto metropolitano como intermunicipal.

Avelar tem trajetória nos dois setores, sempre em cargos ligados à infraestrutura e ao transporte coletivo. Por isso, perde a população, que será privada de possíveis resultados positivos que sua gestão viesse a alcançar.

Em segundo lugar, é preciso fazer a leitura sobre as causas da saída do secretário, mesmo sem que ele tenha conversado com a imprensa sobre a retirada. Como esperado, Avelar optou pelo silêncio.

Mas sua saída importa porque sinaliza os caminhos que a primeira gestão da governadora Raquel Lyra (PSDB) está seguindo na infraestrutura, transporte urbano e gestão do trânsito. Pessoas próximas ao secretário afirmam que, nos bastidores do processo, sabe-se que a ausência de autonomia do secretariado foi a razão principal.

O sentimento é de que a hierarquia não é respeitada, ficando para os secretários uma função apenas figurativa e o ônus pelos problemas que venham a acontecer. Tendo que lidar com órgãos e empresas que atuam desconectados, revelando uma desorganização institucional e, principalmente, de política de governo. E com os riscos pelos erros desses mesmos gestores que agem sozinhos, sem um planejamento de governo.

A saída de Evandro Avelar, inclusive, deixou perplexos deputados da base aliada de Raquel Lyra. “Ele estava chateado com essa falta de autonomia e não é de hoje”, afirmou um deputado. “Estava cansado, já havia conversado com a governadora para sair e, sexta, decidiu não dar mais tempo”, disse um amigo próximo.

No setor de transporte público, um exemplo recente da perda de autonomia que pode ser citado foi a retirada de 200 ônibus da frota da Região Metropolitana do Recife, que o Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitana (CTM) realizou sem que houvesse uma discussão ampla sobre a ação. Mas, quando o problema foi denunciado pelo JC, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) intimou o CTM para dar explicações e a Semobi foi junto, por exemplo.

Na infraestrutura, a ausência de autonomia pode ser exemplificada com o detalhamento dos projetos rodoviários prioritários. Até agora, não se sabe, por exemplo, quais serão as obras que o governo de Pernambuco irá executar com o R$ 1,5 bilhão que o Estado conseguiu financiar em empréstimos com o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. Entre outros episódios.

Nem mesmo a participação na indicação dos nomes para o comando do chamado segundo escalão das secretarias foi dada ao secretariado, com poucas exceções.

A saída precoce do secretário Evandro Avelar sinaliza que algo não está bem. E, num setor como mobilidade urbana e infraestrutura, é ainda mais preocupante diante dos desafios a serem enfrentados. Principalmente numa pasta que foi unificada – o transporte público, o trânsito e a infraestrutura foram todos para a Semobi nesse governo, e que gerou uma expectativa positiva quando criada.