Metrô do Recife acumula problemas e deixa incerto futuro sobre gestão privada

WELLINGTON LIMA/JC IMAGEM

Por Roberta Soares/JC

Os frequentes e variados problemas do Metrô do Recife, que vão de paralisações da operação quase semanais à queda de partes do muro de isolamento da linha elétrica sobre crianças e adultos, voltam a acender o alerta sobre o que está sendo feito com o único sistema metroferroviário de Pernambuco.

Levantam, mais uma vez e outra vez, questões já indagadas e nunca respondidas: nenhum dos poderes públicos está vendo o que acontece com o metrô? Os problemas do sistema tornaram-se tão gigantescos que só uma concessão pública – ou seja, a transferência por um período da gestão para a iniciativa privada – poderia resolver?

O JC tentou, mais uma vez, conversar com a Superintendência da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) no Recife, responsável por gerir o metrô, mas não conseguiu. Tem sido assim faz tempo. Posicionamentos oficiais são apenas por notas. Mas ouviu, em reserva, profissionais que estão no dia a dia do sistema e que já estão visivelmente cansados de presenciar o seu sucateamento.

“A queda de parte dos muros é a ponta de um grande iceberg, que cresce há muitos anos. Desde quando o governo federal – na época sob gestão do PT – segurou o preço da tarifa para evitar superavit primário e, assim, camuflar a inflação. Tinha o lado social, claro, já que a agem ou oito anos custando R$ 1,60. Mas os recursos para investimentos já não existiam, exatamente porque o Metrô do Recife, assim como todos geridos pela CBTU, não gerava receita. Naquela época, apesar de não haver o reajuste da agem, também não havia investimento”, relembra um metroviário com décadas de metrô.

O metrô quebra quase todo dia. Sem falar nos atrasos e na lentidão em diversos trechos, tanto da Linha Centro como da Linha Sul. É difícil para quem depende dele diariamente. E tudo isso a um preço difícil de pagar, que são os R$ 4,25 da tarifa do sistema. “Nós ageiros merecemos mais”,

A diarista Maria José Pereira, que pelo menos três vezes por semana viaja no metrô entre Camaragibe e o Terminal Joana Bezerra, na área central do Recife

Desde então, a situação do sistema metropolitano só piora. Somente na semana ada foram dois episódios que por si só comprometem ainda mais a já abalada credibilidade do sistema. Sem falar no risco de morte para a população, como aconteceu pela segunda vez em menos de cinco meses, de parte do muro de isolamento da linha férrea do metrô cair sobre pessoas que residem ao longo do sistema.

Na última sexta-feira (11), o ajudante de pedreiro Marcos Roberto Bezerra da Silva levou quatro pontos na cabeça ao ser atingido por uma das placas do muro do sistema metroferroviário quando limpava a área para a realização de um culto evangélico, na comunidade do Coque, na Ilha Joana Bezerra, área central do Recife.

Em outubro de 2021, um episódio ainda mais grave aconteceu: a menina Kemilly Kethelyn Lino da Silva, de 8 anos, ficou gravemente ferida num episódio semelhante. A garota foi ferida por uma placa do muro e ficou em estado grave por dias na UTI do HR, chegando a ser entubada e receber respiração mecânica.

Também ou por uma cirurgia na bacia devido aos politraumas e só recebeu alta dois meses depois.
Saindo dos muros, chegamos aos principais problemas do Metrô do Recife: as quebras e interrupções da operação, resultado evidente da falta de manutenção. Uma manutenção que não é feita porque não existem mais peças para substituir o material castigado pelo uso.

Sem recursos e no caminho para virar uma concessão pública, o Metrô do Recife não consegue mais cuidar – como deveria – do seu sistema. Nem para fora, muito menos para dentro. Faltam trens, peças para as composições que ainda operam, manutenção da linha férrea e da rede aérea, e também para o isolamento de toda a estrutura de transporte.