O Globo
Diante do avanço das investigações sobre a participação de militares em uma suposta trama golpista, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para apresentar explicações. Na conversa, pedida pelo ministro e que aconteceu na quinta-feira, Múcio relatou que, apesar de haver incômodo em alguns setores com as medidas tomadas contra integrantes das Forças Armadas, os comandos das instituições apoiaram a operação da Polícia Federal.
O encontro, realizado no Palácio da Alvorada, ocorreu à tarde, horas após a PF ir às ruas na Operação Tempus Veritas, que mirou no ex-presidente Jair Bolsonaro e alguns de seus assessores no período que ocupou o governo federal. Os comandantes das Forças Armadas foram avisados previamente de que haveria a ação policial, sem que os alvos fossem revelados.
Ao todo, três militares foram alvo de mandados de prisão e outros 17 foram de buscas e apreensão nesta quinta-feira — sete deles da ativa. Entre os alvos estão os ex-ministros da Defesa Paulo Sérgio Nogueira e Walter Braga Netto, além do ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Augusto Heleno, todos generais da reserva do Exército. Na lista também está o almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha.
Interlocutores de Lula disseram que ele ficou satisfeito com o que ouviu de Múcio, que tem defendidos a necessidade de se individualizar as condutas para retirar o manto de suspeição sobre as Forças Armadas. Em conversas internas, o ministro afirma ser importante identificar os militares envolvidos em uma suposta tentativa de golpe para, assim, mostrar que as instituições em si não foram coniventes com eventuais movimentos feitos por Bolsonaro e seus aliados. Ele costuma dizer que o foco é o F e não o CNPJ.
No Ministério da Defesa a expectativa é que os processos sejam concluídos rapidamente. Reservadamente, integrantes da pasta afirmam que o incômodo maior com as investigações está entre os oficiais da reserva. Nesta sexta-feira, Múcio viajou para Pernambuco, onde ará o feriado de carnaval com a família. Depois do descanso, no entanto, pretende procurar integrantes das Forças que não estão mais na ativa para tentar atenuar esse sentimento.
Tanto Múcio quanto o comandante do Exército, Tomás Paiva, vem trabalhando nos últimos meses numa estratégia de pacificação da relação dos militares com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Após a politização de parte das tropas no governo Bolsonaro, o governo tem prometido investimentos na área de defesa e trabalhar pela aprovação de uma proposta que prevê a ida para reserva de militares que se candidatem.