O drama dos 80 brasileiros que não conseguem deixar a Ucrânia

Pessoas deixam Kiev após início dos ataques russos

Por Malu Gaspar/O Globo

Embora mais de 100 brasileiros já tenham conseguido sair da Ucrânia desde o início da guerra, ainda restam pelo menos 80 que tentam sair mas não conseguem.

Esse é o número de pessoas com quem o Itamaraty ainda está em contato diário no país e que, por diferentes razões , não tem como deixar a Ucrânia.

Nesse contingente há desde brasileiros que não encontram agens de trem para sair do país até moradores de zonas conflagradas que correm mais risco se locomovendo do que ficando onde estão.

O caso mais grave é o de três jogadores de futsal que estão presos em Kherson, cidade na fronteira com a Crimeia que está sob o controle de forças russas.

Segundo o jogador Cláudio Garcia, que atua no Prodexim Kherson e está isolado num apartamento com os outros dois atletas, não há como se locomover na cidade em meio aos bombardeios e muito menos deixar a cidade, que é banhada pelo Mar Negro, porque os russos controlam todas as entradas e saídas.

Desde que os bombardeios começaram, no final de semana, o grupo chegou a ar dois dias num bunker.  A situação não melhorou, mas eles tiveram que voltar para o apartamento em que estão refugiados porque no abrigo havia muita gente.

Garcia conta que eles estão preocupados com a duração do estoque de alimentos, que dá para mais alguns dias, e estão em contato com a embaixada do Brasil na Ucrânia, mas que por enquanto não veem mesmo nenhuma forma de sair de onde estão. “Estamos esperando um cessar fogo para tentar chegar a fronteira de Moldávia, que fica a 6 horas daqui”, conta.

No início do conflito, a embaixada brasileira em Kiev informou que calculava cerca de 500 brasileiros morando no país, mas nem todos contaram com a ajuda diplomática para sair da Ucrânia.

Vários, inclusive, criticaram a atuação da diplomacia brasileira nesta crise, dizendo que tiveram que se virar sozinhos para sair do país.

O jogador Juninho Reis, por exemplo, contou ontem à Globonews que precisou andar 60 quilômetros a pé, junto com a mulher e o filho de 3 anos, até chegar à fronteira. “Foi sempre por nossa conta. A única instrução que teve do governo era ‘fique em casa, se proteja e mais nada’. Nós nos sentimos realmente bem abandonados mesmo”, disse o jogador à Globonews.

O Brasil também informou no dia 25 que mantinha dois aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) para resgatar quem conseguisse cruzar a fronteira da Ucrânia, mas até agora os aviões continuam em solo. Os brasileiros que chegam têm vindo em voos comerciais.