Atenção, o alerta já está ligado
Por Danizete Siqueira de Lima
Em matéria veiculada pelo jornal O Globo, datada de 25/04/2022, a Rússia fez um alerta para o risco “real” de uma terceira guerra mundial pela Ucrânia. A afirmativa de que o perigo é grave e não pode ser subestimado, foi feita pelo chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, depois que autoridades do alto escalão americano visitaram a Ucrânia e garantiram que é possível ganhar o conflito com o “equipamento adequado”.
Diante das sanções sem precedentes contra Moscou impostas pelos países ocidentais e o crescente apoio militar à Ucrânia, o chefe da diplomacia russa não só alertou para a gravidade como também acusou o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, de “fingir” negociar. “É um bom ator, mas se olhar com atenção e ler com cuidado o que ele diz, serão encontradas milhares de contradições”, afirmou.
“A boa vontade tem limites, mas se não for recíproca, não contribui para o processo de negociações. Mas seguimos mantendo negociações com a equipe enviada por Zelensky”, continuou Lavrov.
Desde o início da guerra, há mais de dois meses, Zelensky pede incessantemente aos aliados ocidentais o envio de armamento mais pesado para fazer frente à teórica superioridade militar da Rússia. E os pedidos parecem fazer efeito. Vários países da Otan se comprometeram nos últimos dias a proporcionar armas pesadas e equipamentos para a Ucrânia, apesar dos protestos de Moscou.
Visitas de autoridades americanas
Este apoio crescente ficou evidente com a visita recente a Kiev, no domingo 24/04, de dois funcionários do alto escalão americano, o chefe do Pentágono, Lloyd Austin, e o secretário de Estado, Antony Blinken, que se reuniram durante três horas com Zelensky.
“O primeiro o para vencer é acreditar que você pode vencer. E eles acreditam que podem vencer”, declarou Austin a um grupo de jornalistas depois da reunião. “Podem vencer se tiverem o equipamento certo, o apoio adequado”, completou.
Em um discurso mais cedo, o presidente Zelensky afirmou que a vitória ucraniana era questão de tempo e que, “graças à coragem” do povo, a Ucrânia “é um verdadeiro símbolo da luta pela liberdade”.
Durante a visita, Austin e Blinken anunciaram o envio de US$ 700 milhões em ajuda militar adicional, elevando o total do aporte dos Estados Unidos para US$ 3,4 bilhões. “Queremos ver a Rússia enfraquecida ao ponto de não poder fazer o tipo de coisa que fez ao invadir a Ucrânia, afirmou Austin após voltar na segunda-feira, dia 25 de abril, à Polônia.
Somando-se a este apoio, o Reino Unido se comprometeu de enviar uma “pequena quantidade” de lançadores de foguetes blindados antiaéreos Stormer, disse o ministro da Defesa. Os Estados Unidos aproveitaram aquele encontro com Zelensky para anunciar a reabertura progressiva da embaixada americana em Kiev e a nomeação da atual embaixadora na Eslováquia, Bridget Brink, como chefe dessa missão, um posto vago desde 2019.
União Europeia ajuda o Tribunal Penal Internacional
O conflito que começou com a invasão russa em 24 de fevereiro entrou em seu terceiro mês com um saldo indefinido de milhares de mortos, mais de cinco milhões de exilados e outros milhões de deslocados internos pela violência. Os combates mais sangrentos ocorreram na cidade portuária de Mariupol (Sudeste), no Mar de Azov, quase totalmente controlada pelos russos, embora milhares de pessoas resistam em condições precárias na usina de Azovstal.
A Ucrânia acusou as forças russas de manter hostilidades contra o complexo, apesar de Vladimir Putin ter ordenado não atacar e a Rússia garante que Kiev impede a saída de seus soldados e civis pelos corredores humanitários habilitados. A cidade é fundamental para os planos de Moscou de abrir uma ponte terrestre entre os territórios separatistas pró-russos de Donbass e a península da Crimeia, anexada desde 2014.
O conflito também interrompeu toda a colaboração diplomática entre a Rússia e os países ocidentais. Na segunda feira (25/04), Moscou anunciou a expulsão de 40 diplomatas alemães em resposta a uma ação semelhante adotada no início de abril por Berlim, após o início da ofensiva russa. Em Haia, a Procuradoria do Tribunal Penal Internacional anunciou que participará da investigação da União Europeia sobre os possíveis crimes internacionais cometidos na Ucrânia.
Nesse contexto, o secretário-geral da ONU, António Guterres, se comprometeu em visitar a Turquia, país que tenta mediar o conflito, antes de seguir para Moscou e depois para Kiev na terça-feira, 26.
Em suma, um conflito que parecia acabar rápido já caminha para o seu terceiro mês e os prejuízos serão incalculáveis. A Ucrânia, que parecia inofensiva, surpreendeu os russos com sua coragem e determinação de não recuar tão facilmente como parecia.
As ajudas que os ucranianos tem recebido de outros países, além das retaliações que estão sendo impostas aos russos poderão complicar cada vez mais o conflito e um desastre mundial não está descartado. A não ser, é claro, que as coisas tomem um rumo diferente chegando a um acordo pacífico e implantando-se a bandeira de paz. Até lá é aguardar para ver o desfecho final.