O Globo
Preso na operação da Polícia Federal que mirou o uso de um sistema espião por parte da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o ex-servidor do órgão Eduardo Izycki, exonerado no fim desta sexta-feira, participou, no ano ado, ainda durante o governo Bolsonaro, de um evento virtual promovido pelo Instituto Lula, fundação da qual o petista é presidente de honra. Na ocasião, ele fez uma apresentação ao lado de outros especialistas e falou de temas como o risco de serviços de monitoramento criarem um estado de “insegurança cibernética”.
Então bolsista no Reino Unido, com mestrado em segurança internacional na King’s College London, Izycki chegou ao Instituto Lula após vencer um edital com o tema “Soberania e segurança na Era Digital”. Na ocasião, ao expor a pesquisa ganhadora por videoconferência cujo conteúdo segue disponível no YouTube da organização, o alvo da PF exibiu dados coletados por ele sobre os maiores compradores de serviços de monitoramento, segundo o levantamento, as agências de inteligência aparecem no topo, com 47 negociações do gênero de um total de 99.
— No caso de agências de inteligência, nos leva a uma certa preocupação sobre qual é o escopo que permite fazer uso desse tipo de artefato no ambiente doméstico, afirmou na apresentação.
O receio de Eduardo Izycki é reforçado pelas descobertas da investigação da PF que acabou o colocando atrás das grades. Como revelou a colunista Bela Megale, o sistema de monitoramento da Abin foi acionado mais de 30 mil vezes. Desse montante, os agentes detalharam 2.200 usos relacionados a políticos, jornalistas, advogados e adversários do governo Jair Bolsonaro.
Na pesquisa apresentada no Instituto Lula, Izycki lembrou que as ferramentas de vigilância são produzidas pelo setor privado, que vende “soluções” para governos. Assim, explicou, programas do tipo spyware (espiões) viabilizam monitoramento, vigilância e coleta de informação não consensual, mas “autorizada legalmente”.
Em sua explanação, Eduardo enumerou diferentes tipos de espionagem, citando como exemplos o monitoramento ivo de internet, a filtragem de conteúdo e a coleta de áudio e de imagem. Essas práticas de vigilância são “difundidas globalmente, infelizmente”, lamentou ele.
— O nível invasivo (dos mecanismos de vigilância) pode ser extremo, razão pela qual a gente precisa ser muito cauteloso no uso desses instrumentos. Talvez, não devamos proibir o uso desses instrumentos, mas certamente, por ser invasivo, precisamos ter garantias aplicadas a isso, disse.