Folha de S.Paulo
Sob a condução da presidente do partido, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), o PT aprovou, durante reunião tensa, nesta segunda-feira, uma mudança no estatuto para permitir a reeleição de parlamentares e dirigentes partidários que já tenham exercido três mandatos consecutivos na mesma Casa Legislativa ou instância do PT.
Apesar da pregação do presidente Lula por renovação de seu partido, a alteração possibilitará que deputados concorram à reeleição ainda que já tenham ocupado a mesma função por três mandatos consecutivos. Como o mandato de senador é maior, a candidatura ficaria proibida para aqueles que já estivessem no segundo consecutivo.
A própria Gleisi encaminhou a votação, chegando a afirmar, quando contestada, que ela sabia como conduzir uma reunião do PT. Além dela, a secretária nacional de juventude, Nádia Garcia, defendeu a proposta, que suspendeu a regra para a eleição de 2026.
As discussões ficaram acaloradas antes mesmo da votação do mérito, quando petistas discutiram qual seria o quórum para a decisão. Durante o debate híbrido, presencial e virtual, o secretário de Comunicação, deputado federal Jilmar Tatto (SP), bateu boca com Valter Pomar, dirigente da Articulação de Esquerda.
Os opositores da decisão ameaçam judicializar sob o argumento de que mudança no estatuto exige quórum qualificado. Para atingir dois terços do Diretório Nacional, seriam necessários 62 votos. A mudança foi aprovada por 60 votantes.
A vedação suspensa dizia o seguinte:
“Não poderá se apresentar como pré-candidato ou pré-candidata para postular o mesmo cargo, o parlamentar que já tiver sido eleito para três mandatos consecutivos na mesma Casa Legislativa, e no caso do cargo de senador ou senadora, o parlamentar que já tiver sido eleito para dois mandatos consecutivos no Senado Federal”, dizia o estatuto.
A proibição dessas candidaturas aria a vigorar nas eleições de 2026. Mas, por 60 votos favor, 27 contra e cinco abstenções, o Diretório Nacional do PT permitiu a candidatura desses parlamentares à reeleição no ano que vem.
Apelidado por integrantes do PT de emenda Gleide Andrade, por possibilitar a reeleição da tesoureira do partido, a proposta apresentada ao diretório também permite a permanência dos ocupantes de cargos na cúpula partidária.
Dizia o texto aprovado: “O disposto nos artigos 32 e 141 do Estatuto do Partido não se aplicarão (sic) ao PED realizado em 6 de julho de 2025 e às eleições parlamentares de 2026, permitindo que dirigentes e parlamentares possam renovar seus mandatos eletivos”.
O artigo que foi alterado dizia: “Serão inelegíveis para cargos em Comissões Executivas, em qualquer nível, filiados e filiadas que tenham sido membros de uma mesma Comissão Executiva por mais de 3 (três) mandatos consecutivos ou dois mandatos consecutivos no mesmo cargo”.
Na prática, essa mudança poderia permitir até mesmo a reeleição de Gleisi, já que ela está no segundo mandato de presidente do partido. Mas essa hipótese estaria fora de cogitação.
Essa não é a primeira vez que o estatuto sofre mudanças para permitir candidaturas de parlamentares petistas à reeleição. Em 2024, a brecha foi aberta para vereadores do PT. A contagem de mandatos ou a vigorar em 2011, após mudança do estatuto petista.
Por 61 votos a favor e 24 contra, o comando do PT também aprovou a manutenção de eleições diretas para a direção do partido, incluindo o presidente do partido, como já estava previsto no estatuto. Uma ala da sigla apresentou proposta para que fosse realizado em congresso.
A esquerda do PT rachou nesse quesito, já que uma corrente defendia um modelo híbrido com debates de teses partidárias. Candidato de Lula, o ex-prefeito de Araraquara Edinho Silva e a corrente liderada pelo presidente, a Construindo um Novo Brasil (CNB), defenderam a eleição direta.
A eleição do presidente está programada para o dia 6 de julho. Edinho enfrenta resistência dentro da CNB (Novo Brasil). A perspectiva de mudança na cúpula partidária tem fomentado a oposição dos ocupantes da atual direção ao nome de Edinho. A tendência de Lula ameaça se rebelar contra seu maior líder, procurando opções ao seu indicado.
Entre aliados de Lula, a aposta era que essa resistência viesse a arrefecer depois que o presidente informou a petistas a intenção de nomear Gleisi para o comando da Secretaria-Geral da Presidência.
Gleisi vinha defendendo um nome do Nordeste para sua sucessão no PT. Com ela fora do cargo, a articulação de alternativas a Edinho poderia ser reduzida, nos cálculos do governo.
Mas apoiadores do ex-prefeito de Araraquara tiveram uma amostra das dificuldades quando um convite para um jantar com Edinho recebeu críticas no grupo de WhatsApp dos deputados que integram a corrente majoritária do PT. O encontro acabou adiado.