Por Luísa Marzullo/O Globo
Com entraves na relação com a Assembleia de Pernambuco desde o início de seu mandato, a governadora Raquel Lyra (PSDB) sofreu nesta terça-feira mais uma derrota simbólica: após modificarem o regimento interno para adiantar a eleição do biênio 2024/2025, os deputados reelegeram Álvaro Porto (PSDB), que apesar de ser correligionário da governadora tem rusgas com o Palácio das Princesas: ele reafirma uma posição de independência, o que desagrada o Executivo.
Em fevereiro deste ano, Porto foi eleito presidente da Assembleia Legislativa, mandato que duraria até janeiro de 2025. No entanto, há exatamente uma semana o plenário aprovou o adiantamento da próxima disputa e o tucano ficará no mais alto cargo da Casa até o final de 2026, quando o governo de Lyra termina.
Além do correligionário, a governadora também não conseguiu colocar seus aliados em outras posições influentes. O 1° vice-presidente eleito foi Francismar Pontes (PSB), que integra a oposição. Já o segundo, Fabrizio Ferraz (SD), é da bancada independente.
A relação entre a governadora e o presidente da Assembleia tem sofrido desgastes. O auge desta tensão ocorreu durante a elaboração da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), quando Raquel Lyra teve seus vetos derrubados na totalidade.
Na ocasião, o tucano votou contra a chefe do Executivo pernambucano e ainda explicou suas motivações:
— Nós tentamos vários acordos, esperamos um posicionamento do governo do estado, mas infelizmente os acordos que chegaram a essa Casa não foram favoráveis. Eu já declaro “não”, pela rejeição do veto, disse Álvaro Porto.
Fora do plenário, ele ainda fez críticas públicas, em suas redes sociais, a ausência de diálogo por parte da governadora. “Após várias tentativas de acordo com o Palácio, o plenário da Alepe rejeitou hoje os vetos do Governo do Estado à LDO. Com placar de 30 a 10, a votação mostrou a posição dos deputados e deputadas quanto ao tempo de cumprimento das emendas enviadas pelo Legislativo para ajudar o povo de Pernambuco. Temos urgência na destinação de recursos para melhorar a vida da nossa gente, por isso, não concordamos com os vetos do Governo aos ajustes propostos por deputados. Seguimos abertos ao diálogo e procurando a melhor solução para que o povo seja sempre o maior beneficiado”, dizia a mensagem que foi, posteriormente, apagada.
Atualmente, a governadora tem uma base de 12 deputados, que representa 24% da Assembleia. A tensão na Casa Legislativa escalonou os últimos meses. Primeiramente, com a aprovação do aumento da alíquota do ICMS, tornando o imposto um dos mais caros do Nordeste e angariando críticas da direita à esquerda. Lyra vem enfrentando resistência constante dos parlamentares, o que sempre demandou um esforço na articulação de cada uma das propostas caras à gestão. Foi desta maneira que obteve vitórias significativas, como a autorização de um empréstimo de R$ 3,4 bilhões e a reforma istrativa.
Esta realidade, contudo, começou a piorar em agosto, quando os três deputados estaduais do PT, que antes integravam a chamada bancada independente, migraram para a oposição. João Paulo (PT), contudo, a favor do governo. A ala sem posição diante do Palácio das Princesas é um dos maiores entraves para a governadora, por ter 20 parlamentares de seis partidos diferentes. Na votação desta terça-feira, Lyra conseguiu angariar o apoio de três.