Sobram empregos em cidade pernambucana. Veja onde é e por que isso está acontecendo

Só no Moda Center (estrutura privada) e Calçadão (estrutura pública) estão reunidas 14.000 empresas em Santa Cruz do Capibaribe

No clima semiárido do Agreste pernambucano, as oportunidades florescem, mas não têm dado frutos. Na região, onde está concentrado o Polo de Confecções do Estado, responsável por movimentar cerca de 5% do PIB de Pernambuco, o crescimento da atividade econômica e dos empregos formais é comemorado, mas ao mesmo tempo, assustado empreendedores e empresários que vislumbram uma grande dificuldade para alavancar os negócios: a falta de mão de obra qualificada. A situação é espelhada em Santa Cruz do Capibaribe, considerada a ‘cidade-mãe’ do polo têxtil.

Por lá, as oportunidades de trabalho formal, com carteira assinada, ou seja, salário pago de forma regular e garantia de direitos trabalhistas, não é mais um forte atrativo para a geração de renda – o que impacta diretamente no desenvolvimento não só da confecção, mas de diversos negócios na cidade que convivem com uma sobra de vagas e escassez de trabalhadores.

Muito emprego, pouca mão de obra

Não é incomum circular informações sobre o subemprego nas cidades do Polo Têxtil, com grandes jornadas de trabalho, informalidade e baixa remuneração. Mas não é esse o caso. As empresas de Santa Cruz do Capibaribe têm relatado a falta de mão de obra para postos qualificados e em vagas não só na confecção. Falta gente capacitada, falta interesse em trabalhar no mercado formal e sobram outras opções para fazer renda, segundo a Câmara de Dirigentes Lojistas do município.

“É fundamental prover uma estrutura de capacitação, a escola do Senai encerrou as atividades em Santa Cruz do Capibaribe, e isso prejudicou muito o município. Investimentos em educação profissional são vitais para o nosso real desenvolvimento. Temos hoje muita gente de outras regiões trabalhando aqui, assim como uma cultura empreendedora muito forte, que faz com que muita gente queira começar o seu próprio negócio. Acho que a principal razão para a situação que vivemos hoje é o grande número de empresas que temos”, resume o presidente da CDL de Santa Cruz, Bruno Bezerra.

Só no Moda Center (estrutura privada) e Calçadão (estrutura pública) estão reunidas 14.000 empresas em Santa Cruz do Capibaribe. Em sua maioria comércios, que empregam, em média, no mínimo de três a quatro pessoas. Uma amostragem feita pela CDL com 139 empresas revelou que 100% delas estão com dificuldades para contratar funcionários. Quando questionados se a contratação de mão de obra está muito difícil, a percepção é confirmada por 94% desses negócios. Mesmo para posições que não requerem experiência ou qualificação prévia, a situação não melhora substancialmente. Cerca de 78% das empresas ainda consideram muito difícil encontrar esses colaboradores, com 21% indicando uma leve redução na dificuldade e apenas 1% afirmando não ter problemas.

A economia pujante da cidade, convive com o baixo índice de formação profissional. Em Santa Cruz do Capibaribe, o PIB que era de R$ 680 milhões em 2002 chegou a R$ 1,55 bilhão em 2020, segundo recorte da Ceplan e Fecomércio com base em dados do IBGE. Em Santa Cruz do Capibaribe, 30% dos negócios estão no ramo têxtil, ultraando 4,5 mil pessoas empregadas. A números de 2020, o crescimento do emprego formal nessa cadeia, no entanto, era de 8,5%. Parece muito, mas em Toritama, município vizinho, o mesmo segmento avançou mais de 30% no mercado de trabalho formal. No segmento têxtil Santa Cruz do Capibaribe retém 41% dos seus empregos formais, com mais de 6 mil vagas. Mas agora luta para fazer crescer esse número.

“A percepção de mudanças, mentalidade estratégica e alta adaptabilidade serão determinantes nesse momento para as empresas no que diz respeito a pessoas”, reforça Madellon Leite, que é educadora corporativa e vice-presidente da CDL Santa Cruz do Capibaribe. Ela sugere que, a partir do contexto de cada empresa, estratégias importantes sejam traçadas para atrair e manter talentos. Assim como seja priorizado o “desenvolvimento profissional, benefícios reais, validação e oportunidades de crescimento”.

As dificuldades para contratação

As dificuldades do mercado formal em Santa Cruz foram elencadas pelos próprios empresários ouvidos pela CDL. Os problemas resumem-se ao número elevado de empresas na região supera a disponibilidade de mão de obra qualificada; percepção de que os jovens não estão suficientemente engajados em estudar e se qualificar; desafios em conciliar horários de trabalho com os horários de creches e escolas; a escassez de estruturas adequadas para capacitação agrava a situação; preferência pelo trabalho autônomo e até mesmo a garantia de renda através de programas sociais como o Bolsa Família.

Com apenas cerca de um quinto da força de trabalho ocupada com ensino médio completo, Santa Cruz se desafia a conviver com uma taxa de informalidade que beira os 80%. Sem qualificação, os postos formais seguem sendo mais difíceis de serem ocupados. E as oportunidades de crescimento parecem continuar a se perder na cidade. A escola técnica do Senai, que seria o grande propulsor da formação técnica e profissional da população, é outra queixa do empresariado local. A unidade abriu em 2016, mas já fechou as portas no município, deixando para trás a possibilidade de garantir a formação periódica de cerca de 200 alunos em oitos cursos de Formação Técnica de Nível Médio e Qualificação Profissional Básica. Procurado, o Senai não justificou o encerramento das atividades, mas disse manter unidades mais próximas em Caruaru e Belo Jardim.

Esses alunos e tantas outras pessoas com algum grau de qualificação poderiam virar vendedores, costureiros, gerentes, secretários, estoquistas, caixas, motoristas, professores, profissionais para acabamento de confecções, estampadores e operadores de máquina de bordar – algumas das oportunidades mais demandas na cidade e que, segundo os empresários, seguem em aberto pelo apagão de mão de obra.

Vagas de emprego mais requisitadas em Santa Cruz do Capibaribe:

1 – Vendedor

2 – Costureira

3 – Gerente

4 – Secretária

5 – Estoquista

6 – Caixa

7 – Auxiliar de produção

8 – Serviços gerais

9 – Motorista

10 – Garçom

11 – Auxiliar de cozinha (restaurantes, bares e lanchonetes)

12 – Cortador/infestador

13 – Auxiliar de escritório (istrativo, contabilidade, arquitetura)

14 – Diarista

15 – Pedreiro

16 – Professor

17 – Profissional para acabamento em confecção

18 – Estampador

19 – Servente de pedreiro

20 – Operador de máquina de bordar