Por Malu Gaspar/O Globo
Além de traçar um diagnóstico da herança deixada pelo governo Bolsonaro, a equipe de transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem sido orientada a perseguir outras duas missões: evitar vazamentos de informações dos 31 grupos de trabalho criados e a impedir a espionagem por parte da istração de Jair Bolsonaro.
Todos os membros da equipe tiveram que um termo de integridade, de uma página, no qual consta que informações consideradas sensíveis não poderão ser vazadas nem utilizadas em benefício pessoal.
Em outro momento, quando a transição já completava mais de 20 dias, circulou um comunicado interno na tentativa de coibir vazamentos.
“A divulgação externa de materiais ainda em elaboração no âmbito do Gabinete de transição prejudica a consistência e a uniformidade dos trabalhos dos Grupos Técnicos – GTs, desafiados pelo exíguo prazo e singular complexidade. Além disso, as atividades e os trabalhos dos GTs precisam ser validados pela Coordenação dos Grupos Técnicos”, dizia o comunicado.
“Sempre há uma tensão no ar, uma desconfiança com o vazamento de informações estratégicas, mas as informações coletadas não têm nada de confidencial. É uma preocupação excessiva”, diz um integrante do núcleo da educação.
As suspeitas dos lulistas foram reforçadas por um episódio ocorrido logo nos primeiros dias da transição, onde funciona a transição de governo. Foi quando agentes do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) se apresentaram para trabalhar no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), sede provisória do governo de transição.
Como isso não estava previsto, foram imediatamente rejeitados, pelo temor de que estivessem ali para colher informações para o chefe, o ministro e general Augusto Heleno.
Depois disso, os petistas pediram uma varredura eletrônica para identificar se havia equipamentos de escuta e dispositivos de interceptação de áudio, vídeo ou sinal de celular.
Outro cuidado que vem sendo tomado na tentativa de evitar vazamentos é compartimentar as informações até mesmo dentro dos próprios grupos de trabalho.
No grupo de comunicação, por exemplo, alguns aliados de Lula têm evitado compartilhar informações estratégicas com o deputado federal André Janones (Avante-MG), conhecido por postagens sem freios nas redes sociais.
Mas a maior preocupação do time de Lula, por ora, é com a situação de pessoas que ocuparam postos estratégicos nos governos do PT e seguiram nessas funções – ou até foram promovidas – durante os governos Temer e Bolsonaro.
“Esses quadros são mais técnicos e estão alojados em áreas importantes, como orçamento e planejamento. São pessoas estratégicas na istração e com o a muitas informações, muitas vezes donas de informações”, disse um aliado de Lula.
A ideia é fazer um pente-fino para não correr o risco de que, entre essas pessoas, bolsonaristas sigam em seus cargos e funcionem como infiltrados na gestão petista.
“Agora virou uma guerra de contraespionagem”, afirmou à equipe da coluna um integrante da equipe de transição cotado para comandar um ministério ainda pendente de confirmação.
“Tem de verificar mesmo, porque esta não é uma transição normal, como foi a do governo FHC para Lula em 2002”, concordou um senador aliado à equipe da coluna. “É uma transição do desgoverno Bolsonaro para Lula”.