UM TOQUE DE SAUDADE

Por Naldinho Rodrigues*

Em clima de arraiá, vamos relembrar de um cara que foi considerado por muitos como uma corrente direta do Rei do Baião Luiz Gonzaga. Inclusive, os dois numa determinada época disputavam de forma acirrada a vendagem de discos. Me refiro a Gabriel Eusébio dos Santos Lobo, mais conhecido como Ary Lobo. Foi um cantor e compositor brasileiro de grande prestígio chegando a gravar mais de 700 músicas por ele e outros cantores, músicos e intérpretes. Era defensor da música norte/nordestina de raiz.

Nascido há mais de nove décadas em Belém do Pará, Ary Lobo morreu cedo, uma semana depois de completar 50 anos, vítima de câncer. Na ocasião, ele morava em Fortaleza e foi enterrado como indigente após gastar todo o dinheiro que tinha no tratamento contra a doença. Um final melancólico, no ostracismo, em nada lembrava o cantor de cocos, rojões, xotes, baiões, arrasta-pés e até boleros que alcançou fama e sucesso no Rio de Janeiro dos anos 60, quando a cidade era o grande centro cultural do país.

O primeiro convite para se transferir à capital carioca veio de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, que assistiu Ary Lobo em Belém. Mas ele só topou a aventura mais tarde, levado pelo compositor Pires Cavalcante. O primeiro disco gravado de 1958, intitulado “Forró com Ary Lobo”, traz uma sequência de imagens do artista na capa, simulando uma dança, o que deixa claro o caráter agitado das canções “Pedido a Padre Cícero” e “O Criador”. São reflexões que resgatam a forte presença religiosa no norte do País.

Já com o nome forte na praça, o álbum de 1962 foi batizado apenas como “Ary Lobo”, e trouxe a invocada música “Eu vou pra Lua”, no rastro do êxito da outra composição galáctica. “Ninguém acredita na política/onde o povo só vive em agonia”. A música foi regravada por Zé Ramalho no ano 2000. Intérprete habilidoso, de emissão marcante e domínio rítmico similar ao de Jackson do Pandeiro, o paraense Ary Lobo dedicava salvas a si mesmo.

Ary Lobo foi daqueles gênios que não nascem mais nos dias de hoje, o maior compositor de forró da história com mais de 700 músicas. Um defensor solitário (ou quase) da música nordestina de raiz. Suas gravações são o retrato disso, a começar pelos instrumentos usados, ele não usava muito, já tinha sua fórmula montada.

Ary Lobo lançou vários sucessos nos anos 50 e 60 em seus nove discos. Retratava a vida e os costumes nordestinos em diversas canções, como “Cheiro da Gasolina”, “Vendedor de Caranguejo”, “Eu vou pra Lua”, “Súplica Cearense”, “Evolução”, “Menino Prodígio” e “Ultimo Pau de Arara”.

Ary Lobo, antes de se tornar popular como cantor, exercia as mais diversas profissões, incluindo a de mecânico e músico corneteiro na Força Aérea Brasileira. Ao se apresentar em concurso de calouros, de Belém, como era de se esperar, foi feliz em sua primeira apresentação fazendo parte do conjunto Namorados Tropicais.

Prestem atenção na coincidência: Ary Lobo nasceu no dia 14 de agosto de 1930, em Belém do Pará e faleceu no dia 22 de agosto (mesmo mês de nascimento) de 1980 (50 anos).

Foi até difícil escolher uma música para prestar-lhe a homenagem. Depois de muita dúvida, escolhemos: EU VOU PRA LUA… espere que gostem!!!

*Naldinho Rodrigues é locutor de rádio. Apresenta o programa Tocando o ado, pela Rádio Afogados FM, sempre aos domingos, das 5 às 8 da manhã.