Por Naldinho Rodrigues*
Hoje vamos trazer um pouco de Augusto Calheiros, cantor e compositor, que nasceu em Maceió (AL), no dia 5 de junho de 1891. Descendente de índios, nasceu numa família com boa situação financeira. Aos nove anos porém, começou a ar dificuldades. Transferiu-se rapazola para Garanhuns, Agreste de Pernambuco. Ali trabalhou como dono de bar, fabricante de sapatos, hoteleiro, subdelegado e até carcereiro. Paralelamente levava sua vida musical cantando nos cinemas locais.
Em 1923 foi para Recife, onde começa a cantar na recém inaugurada e segunda rádio transmissora brasileira, Rádio Clube de Pernambuco (PRAP), em 17 de outubro de 1923.
Em 1926 faz parte da formação original do conjunto vocal Turunas da Mauricéia. O conjunto segue ao Rio de Janeiro em 1927. Calheiros, a partir de 1929, fez também sua carreira solo, mantendo um estilo próprio cantando músicas sertanejas.
Augusto Calheiros foi intérprete de grandes sucessos como Ave Maria e Senhor da Floresta. Reza a lenda que o cantor de voz afinada e popular tinha apenas um pulmão, tendo perdido o outro acometido de tuberculose. Seu sucesso no Rio de Janeiro teve um importante patrocínio do jornal Correio da Manhã.
No auge de sua popularidade, dividindo com Jararaca e Ratinho, Dercy Gonçalves, Arthur Costa e outros, cantava na Casa de Caboclo, famosa casa de espetáculos inaugurada em 1932, localizada na Praça Tiradentes, onde era divulgada a música regional brasileira. Em 1936, cantou no filme Maria Bonita, da Sonoarte.
Nos espetáculos, cabia a Calheiros fazer a apresentação de cada um dos companheiros, através do recitativo de quadrinhas: “Cantamos canções do mato/Nem é outra a nossa Ideia/Dizem que somos fato/Turunas da Mauricéia”. Ao se referir a si mesmo, dizia: “Eu só sigo os companheiros/Minha vida é a canção/Chamam-me Augusto Calheiros/O cantador do Sertão”.
As primeiras gravações dos Turunas difundiram por todo o Brasil a voz privilegiada de Calheiros, afinada, de dicção perfeita e grandes recursos. Os êxitos se sucedem, bem como as excursões, inclusive ao Sul do Brasil e Buenos Aires. Com o fim do grupo, em 1929, Calheiros prossegue cantando solo, nas rádios, gravações e nos teatros.
Ao todo gravou 80 discos 78 rpm com 154 músicas. Em 1955 destacou-se no 2º Festival da Velha Guarda em São Paulo, organizado por Almirante.
No ano seguinte a saúde, que já não era das melhores, pois havia extraído um pulmão acometido por uma tuberculose anos antes, ou a se complicar com a vida boêmia levada no Rio de Janeiro. Desprovido de recursos para tratamento, seu amigo e irador Almirante organizou um “Livro de Contos” e ou a circular no meio artístico. Em cada página escrevia-se uma quadrinha e anexava-se uma cédula de mil cruzeiros (um conto de réis). Foram arrecadados 114 “contos”, mas não foi possível salvá-lo e veio a falecer no início de 1956, Augusto Calheiros faleceu deixando uma única filha, Cleide. “A Patativa do Norte” (ou Nordeste) apelido que recebeu por tão bem cantar, canoro, foi considerado de todos, talvez o mais brasileiro deixando uma enorme saudade com suas saudosas serestas.
Vamos recordar com uma grande melodia na voz da Patativa do Norte, numa homenagem a esse alagoano, de coração pernambucano…SENHOR DA FLORESTA.
*Naldinho Rodrigues é locutor de rádio. Apresenta o programa Tocando o ado, pela Rádio Afogados FM, sempre aos domingos das 5 às 8 da manhã.