Por Naldinho Rodrigues*
Não é à toa que Erivan Alves de Almeida levava o título de mestre. Neto de mestre Bruno, um daqueles sanfoneiros de oito baixos que só o nordeste sabe gerar, Zinho, como ficou conhecido já na infância, cresceu com o talento e o amor pelo forró pé-de-serra correndo nas veias. Talento que foi reconhecido pelo próprio rei do baião e foi aclamado por milhares de forrozeiros do país.
Aos 65 anos de idade e mais de 30 de carreira, o mestre do triângulo que tinha a voz mais bonita do forró partiu na tarde do dia 31 de janeiro de 2010. Da infância em meio à pobreza e à seca, o cantor nascido em Rio Largo, estado de Alagoas, guardou a força nordestina e as influências dos antigos trovadores, que marcam voz. O timbre doce, balanceado e ao mesmo tempo alegre, grave e forte, chamou a atenção até mesmo de ninguém menos que Luiz Gonzaga.
Zinho, contava que, quando estava à beira da morte, no hospital, Gonzagão o chamou e disse: “depois de mim e Lindú (vocalista do trio nordestino, já morto na época), você é o melhor cantor de forró vivo. Não é para você se achar não viu, carrega essa bandeira”.
Obediente, mestre Zinho, que foi vocalista do grupo os Três do Nordeste por oito anos, seguiu direitinho o pedido do grande rei. Levantou bem alto a bandeira do forró pé-de-serra e a levou a todos os cantos por onde ou. Já em carreira solo, havia gravado o disco “Murro em ponta de faca”, com a participação de Dominguinhos, Amelinha e Luiz Gonzaga, um ano antes da morte do rei. Desde então não parou mais. Nem mesmo quando sofreu um acidente de carro, em 1987, que lhe tirou parte dos movimentos de uma das mãos, um câncer de próstata em 2006, uma cirurgia cardíaca em 2008.
No mesmo ano, Zinho teve uma paralisia facial e ou a se apresentar com ainda mais dificuldades. Assistir seu show assim era triste, dolorido, mas emocionante. Durante a carreira solo, fez participações importantes, como no álbum “Fruto”, de Elba Ramalho, e no projeto “Forró de cabo a rabo”, promovido pelo centro cultural Banco do Brasil. Lançou outros discos e CDs, como “De documento na mão”, “Aí o bicho pega”, “Forró do apagão” e “Gelo na farinha”.
Em 2007, foi a vez de “Canta o que o povo gosta” e em 2008 gravou em São Paulo um álbum ao vivo. Foi Luiz Gonzaga quem deu a Zinho o título de mestre, com o qual seguiu com ele até o fim de sua carreira. Mestre Zinho batalhou muito e sofreu em muitas de suas batalhas.
Tocou em inúmeras portas de loja, de cinema e em cima caminhões na capital alagoana antes da oportunidade lhe surgir à porta e ele se tornar o rosto dos três do nordeste (Zinho substituiu Zé Cacau, primeiro vocalista dos Três do Nordeste). Gonzaga não estava errado quando disse que ele era, além de o melhor cantor de forró vivo, seu sucessor. Mas esqueceu, ou talvez só não tenha percebido à época, que mestre Zinho era, ainda, muito mais.
Mestre Zinho (o mestre do forró) faleceu no dia 31 de janeiro de 2010 quando se recuperava de um tratamento de câncer em hospital no Rio de Janeiro. Erivan Alves de Almeida, alagoano que ficou conhecido no brasil inteiro como Zinho, o mestre do forró. Assim como outros grandes nomes da música nordestina, Zinho deixou muitas saudades, e uma grande obra prima musical, como a música: AMOR COM CAFÉ…
*Naldinho Rodrigues é locutor de rádio. Apresenta o programa Tocando o ado pela Rádio Afogados FM, sempre aos domingos, das 5 às 8 da manhã.