Por Naldinho Rodrigues*
A música “Muralhas da Solidão” de Lindomar Castilho é uma comovente carta de um filho para sua mãe, onde ele expressa a profunda saudade e a dor da solidão que sente. Lindomar Castilho era um cantor de sucesso e estragou a sua carreira ao matar, por ciúme, a mulher Eliane de Grammont, em 1981. O artista foi condenado a 12 anos de prisão e ficou seis anos detido. Ele já foi um dos maiores artistas da MPB, mas hoje vive esquecido, distante de qualquer sucesso, em sua simples residência no Estado de Goiás.
Não estou falando de nenhum astro sertanejo, e sim de um cantor que na década de 70 estourou com as músicas “Coração Vagabundo”,” Camas Separadas” “Você é Doida Demais”, entre outros hits. No auge da carreira, aclamado com Discos de Ouro, Platina e inclusive um Grammy, casou-se com a também cantora Eliane de Grammont, pouco conhecida na mídia, exigindo que ela deixasse o glamour artístico e se dedicasse ao lar e a filha recém-nascida.
Ciúmes, alcoolismo e brigas foram responsáveis pelo fim do casamento, que durou aproximadamente um ano. Logo após a separação, Eliane retoma timidamente sua trajetória musical, grava “Amélia de Você”, que por si só exprime sua vivência conjugal anterior, e se apaixona pelo primo de seu ex-marido, que também era músico, com quem inicia um relacionamento.
Na madrugada do dia 30 de março de 1981, Eliane de Grammont seu novo namorado Carlos Randall, estavam se apresentando no “Café Belle Époque”, no centro de São Paulo, cantando precisamente os versos “Agora era fatal que o faz de conta terminasse assim”, de Chico Buarque, quando seus ex-marido entra e dispara cinco tiros em suas costas e um tiro no abdômen do namorado. O primo sobreviveu, mas sua ex-mulher faleceu no local. O crime chocou o Brasil. A filha Liliane de Grammont, foi criada pelas duas tias (irmãs de Eliane), enquanto o pai cumpria pena em regime fechado.
Na cadeia o cantor ainda lançou o disco “Muralhas da Solidão”, ganhando a liberdade em 1996, tendo ficado 7 anos preso, e o restante no semiaberto. Após o cumprimento da pena, Liliane procurou o pai, perdoando-o pela tragédia cometida contra sua própria mãe em 1981, num ato pouco aceitável pela maioria das pessoas.
O cantor, hoje auto refugiado no seu próprio lar, quando questionado a respeito do crime declara: “Eu carrego comigo um sentimento de culpa enorme. Não é apenas arrependimento. Cometi o crime, independente do meu querer ou não querer. Não sei como explicar aquilo. Hoje, sempre que posso, peço perdão a minha filha e a família Grammont”.
Realmente parece uma história inventada, aquela que chamaríamos de “Estória” com “é” maiúsculo, sinopse pronta para qualquer filme de sucesso, mas foi à pura realidade de Lindomar Castilho, um dos maiores seresteiros do país, tendo sido intitulado como o “Rei do Bolero”, que matou sua ex-mulher, que foi condenado, cumpriu pena, e que pelo resto de seus dias terá este capítulo como tema principal em sua história, mancha que encobrirá qualquer música de sucesso que fez parte do ado.
Sinceramente, sempre que me recordo deste fato, questões surgem comigo, tentando compreender o incompreensível. E quando cumpria a pena, sozinho, abandonado, arrependido e tudo mais, Lindomar Castilho buscou reação através de uma música que ele mesmo compôs na cadeia. Prestem atenção na letra. O título da música já é um pouco estranho: MURALHAS DA SOLIDÃO…
*Naldinho Rodrigues é locutor de rádio. Apresenta o Programa Tocando o ado, pela Rádio Afogados FM, sempre aos domingos, das 5 às 8 da manhã.