Por Naldinho Rodrigues*
A música “Medo da Chuva”, composta por Raul Seixas e Paulo Coelho, é uma das obras mais emblemáticas do repertório do cantor baiano, conhecido por sua capacidade de mesclar rock, baião e outros ritmos, além de suas letras filosóficas e contestadoras.
A canção, lançada em 1974, reflete sobre a liberdade individual e a quebra de convenções sociais, temas recorrentes na obra de Raul Seixas, que frequentemente desafiava o status com seu estilo de vida e suas composições. No contexto da letra, o eu lírico expressa um sentimento de libertação de uma relação opressiva, onde ele se sentia como um “escravo” ou “marido” incapaz de partir. A metáfora das “pedras imóveis na praia” ilustra a estagnação e a falta de experiências vividas, enquanto a chuva simboliza a renovação e o aprendizado que vem com as experiências da vida.
A chuva, que antes era um medo, agora é vista como uma fonte de sabedoria e vida, trazendo “coisas do ar” para a terra. A crítica social também está presente na música, questionando a aceitação iva das “mentiras” impostas por figuras de autoridade, como o “padre” mencionado na letra. Raul Seixas desafia a noção de que o amor deve ser único e eterno, propondo que a felicidade pode não estar em “ter amado uma vez”, mas talvez em se permitir viver plenamente, sem medos ou amarras. “Medo da Chuva” é um convite à reflexão sobre a vida, o amor e a liberdade, e permanece como um hino atemporal para aqueles que buscam viver de acordo com seus próprios termos.
Um dos artistas mais icônicos e autênticos da história da música brasileira, que misturava ocultismo e rebeldia, o “Maluco Beleza” Raul Seixas compôs em 1974, uma de suas músicas mais regravadas chamada “Medo da Chuva”. Há quem diga que “medo da chuva” fala sobre o casamento de Raul, que havia sido desfeito pouco tempo antes. Na música, Raul assume o papel de marido descontente com o casamento e dá voz ao personagem. Seus versos falam que ele estava se libertando do casamento e pronto para uma vida nova, sem medo de chuva, sem medo do futuro.
A capacidade de Raul Seixas para compor letras multifacetadas era irável. É mais do que merecida a fama de gênio que o pai do rock carrega até hoje, com um legado marcado por grandes composições. Raul era um homem intenso, gostava de compreender melhor o mundo e as suas infinitas possibilidades. Era um buscador incansável e foi um homem de muitos amores. Teve cinco casamentos e todas essas experiências afetivas, de uma forma ou de outra, inspiraram suas composições.
É o que ocorre na belíssima canção “Medo da Chuva”, na qual, Raul fala sobre o casamento através de um ponto de vista mais crítico. Ao que tudo indica, ele escreveu quando estava se separando da sua primeira esposa, Edith Wisner, com quem se casou em 1967. Quando foi para o exílio nos Estados Unidos, conheceu Gloria Vaquer e há indícios de que ele tenha começado uma nova relação sem terminar a anterior. Eles ficaram juntos por três anos, de 75 a 78.
No período entre um amor e outro, a letra “Medo da Chuva” foi composta e oferecida ao cantor Odair José, que não pôde gravar naquele ano, pois seu novo trabalho, seu disco, já estava pronto. Quem compreendeu um pouco do universo de Raul Seixas, sabe o quanto ele era um defensor da vida livre. E foi justamente o que ele quis dizer quando escreveu: “MEDO DA CHUVA”…
*Naldinho Rodrigues é locutor de rádio. Apresenta o programa Tocando o ado, pela Rádio Afogados FM, sempre aos domingos, das 5 às 8 da manhã, e escreve semanalmente crônicas musicais para o Blog PE Notícias.